Saturday, August 11, 2007

14-Assessores e Asseclas


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Homenagem ao amigo do Val, Beto José, da taverna, brizolista e camisa fluminense... desde que assumiu a administração do Parque de Itaipava, trabalhou incansavelmente, sempre fanatizado pela tarefa de confiança que lhe havia sido passada por seu amigo Prefeito em 2001. Nas eleições de 2004, o Prefeito ganhou em 1º turno, iniciando novo período administrativo petulante e insensível. O irmão do Prefeito, que era um cara muito arrogante, assumiu o controle da Fundação Cultural (tendo como Presidente o Swine, codinome, totalmente alheio e inexpressivo).

Eles não produziram nada, como programação artística, apenas fizeram uma reforma super-faturada do Theatro, no valor de 1 milhão e 800 mil. Tratavam mal os artistas e zombavam dos funcionários, e levaram uma grana obscura lá da Fundação, em propinas. Em 2005 eles deixaram o Beto José sem apoio administrativo, e se esqueceram que o Beto era nosso velho amigo do bairro, e vestia nossa camisa...

 

Assessores e Asseclas

Tribuna de Petrópolis

24 de março de 2005

O funcionário público trabalha dois anos inteiros sem férias. Seu principal assessor é afastado. Em consequência o funcionário, que adora sua função, passa a trabalhar também nos horários do assessor, o que significa sábados e domingos. O funcionário reclama de alguma coisa; suas recomendações, úteis ao público, não são ouvidas... A resposta dada ao funcionário: “Mas nós lhe demos um emprego, do que você reclama?!”

A Sentença permanente, que paira na testa de assessores e asseclas de políticos detentores de prerrogativas executivas – “Mas eu lhe dei um cargo” – é a confissão plena e espontânea de como o político vê suas funções.

Não temos aí o interesse público como o elemento essencial. Ao invés de: “Você é nosso amigo, correligionário, você é competente diante do interesse público, portanto recebe um cargo” – o que temos é: “Senta no cargo, aguarda as ordens do Chefe, vamos trabalhar para a vitória do Chefe.” A vida política brasileira contemporânea foi tomada pelo mais desenvolto fisiologismo. Os caciques instrumentalizam os partidos e os cargos bisonhamente ofertados para o estabelecimento de máquinas eleitorais de marketing e clientelismo organizado que visam a manutenção dos caciques no Executivo, para que eles possam “ofertar cargos”, e se manter no que eles supõem ser “o poder”.

Se os partidos fossem minimamente organizados em torno de programas, ideário, tradições, e mesmo fidelidades pessoais; se fossem organizados em termos de quadros solidários, os caciques tomariam posse e diriam: “Aqui estão os cargos, eles representam o partido.” Não haveria mal que um governo fosse organizado como uma república de amigos, e na base da fidelidade pessoal, desde que os quadros representassem um partido, um programa, e não a figura do chefe; desde que representassem o interesse da sociedade. É demais pedir isso hoje em dia. Os políticos precisam vencer a “qualquer preço”, e alcançar “o poder”. Mas o que é o “poder” – nos termos atuais? Apenas os cargos de responsabilidade pública de executar obras, administrar serviços, etc; dispondo do orçamento público, e dispondo os Executivos de ótimos salários e muitos assessores. Os Executivos, neste caso, estão apenas a cumprir suas obrigações, nada mais.

O poder, a política da sociedade, seria de verdade a capacidade de representar a vida social como um todo – de modo a que se possa tratar das causas dos problemas, não de efeitos setorizados, e isso só quem poderia fazer seriam os partidos organizados – quadros e massa inteligentes.

O instinto pequeno-burguês para ser “rico, famoso e importante”, faz de todos prisioneiros do mesmo raciocínio que diz: “Eu quero ser rico, famoso e importante – e você também!” Se a volúpia do indivíduo ascendente é estigmatizada pelas pessoas que têm real preocupação com o estado da sociedade, da cultura, da administração pública, o político ascencional dirá: “Mas você não conseguiu ser rico, famoso e importante – eu consegui!”

Invariavelmente, a dissidência política e as questões pontuais de administração pública são respondidas pela difamação pessoal – que foge ao debate – e desvalorização do indivíduo. Para o pequeno-burguês “tudo” é a luta individual pelo sucesso.

Chega-se a duvidar do valor de uma “democracia” em que o eleitorado é inculto, manipulável, carente – e sujeito a tanto “marketing”, caixa-dois, compra de votos na rua, e até dentro das urnas. O assistencialismo localizado é ato de humanidade, mas o “assistencialismo continuado” é “prejudicial à socialização” (Reinaldo Bezerra). Na prática do clientelismo organizado, que em todas as ações vê o resultado dos “votos”, o estado de carência da sociedade é mantido de forma ideal de modo a requerer o assistencialismo organizado que a administração pública pode oferecer, sem mudar as condições de origem da carência, perpetuando assim os ciclos de assistencialismo e máquina eleitoral.

Melhor, pelo menos, os caciques que, mesmo fora da democracia formal, trabalham pela transformação da sociedade dos carentes e alienados.

C.M.Barroso

 

Comentário 2014

O Beto vivia amargurado e, no princípio de 2006, ele nos deixou... No dia da despedida, o Prefeito apenas mandou representante, uma camiseta do Fluminense... o Beto deixava de ser amigo de infância e correligionário.

Essa forma típica do yuppie-cruel em obliterar todas as fidelidades, e a integridade das biografias pessoais, em função de um afã de sucesso irresistível; e, mais do que isso, quaisquer compromissos com partidos, cartas, declarações de princípios... isso é a própria "direita" em forma "neo-liberal": "mando porque tenho que mandar/ mando porque sei mandar/ mando com meus asseclas"...

O histórico do Prefeito 3 vezes eleito em 2000, 2004 e 2012 é o da traição em cada Curva do Destino: entretanto, fica claro que este é um método seguro para se eleger, e se reeleger duas vezes... e a segunda reeleição toda na contra-mão Judicial.

Leonel Brizola havia tomado a mão do Vereador na Convenção em 2000, e apoiado sua candidatura a Prefeito. Eleito em 1996, havia sido excelente Vereador, mas a cúpula do PDT em Petrópolis preferia apoiar o ex-Prefeito Paulo Gratacós (PSB) para a prefeitura. Com o apoio do Brizola, saiu o Vereador (o que terá ele prometido ao líder??), como candidatura própria do partido. O PDT era numeroso e foi às ruas em peso para a campanha, e ainda elegeu 4 Vereadores... Uma frente ampla se constituiu, com pdt-pt-psb-pcdb-pv, e depois pps... a cidade se encheu de bandeiras vermelhas!

O ex-Prefeito Rattes estava na segunda posição em 2000, na disputa para a Prefeitura contra o então Prefeito Sampaio. O jovem Vereador da frente-de-esquerda na terceira posição, não parecia ter chances em junho... A Direção do PDT procurou o Vereador para lhe avisar que o Rattes queria entrar em negociações. O Vereador esnobou a Direção partidária: "Eu já tenho meus assessores para isso, não preciso do Partido!!"

Ele e o candidato a Vice-Prefeito do PT desprezavam o ex-Prefeito Rattes, que estava então no PPS: "um politico sem compromissos, não é de esquerda!". Na reta final daquelas eleições petropolitanas (sem 2* turno) o Rattes renunciou em prol do Vereador da Frente, e eles ganharam!! O Rattes passou a ser tratado como um "grande cara, gesto nobre!"

O eleito deu alguns cargos a membros do PPS, mas se recusou a qualquer composição política. Em Janeiro de 2001, vinte dias depois tomar posse, o prefeito-novo traiu o PDT, e o compromisso com Brizola, saiu do Partido e se inscreveu, com uma troupe, no PSB... Consequência do morfético sussurro de traição do rapaz radialista de Campos, que havia se tornado Governador em 1998, desmerecendo o PDT, ao qual devia tudo: "Você assina comigo no PSB, vai ter todo o suporte político e econômico do Governador para seu mandato, larga esse pessoal dos brizolistas em Petrópolis".

E no mês de Maio de 2001, o Candidato rompeu com o Vice, e com o PT, e deu início a seu governo autocrático, inteiramente centrado em seu grupo residencial-nepotista, só aceitando puxa-sacos e alguns amigos ultra-cabotinos em cargos decorativos [o cínico-inculto "Judeu-Perfeito" Tobelem, o Brother-Yankee, o Swine], e afastando ao máximo do governo os representantes da Frente de Esquerda, com suas bandeiras vermelhas.....

Novamente em Maio de 2008, o Prefeito, em solene e tranquilo segundo mandato, resolveu trair o candidato do PSB a Prefeito... Os Petistas (o antigo Vice, e o antigo Presidente da Câmara de 2001-02) haviam passado os últimos 7 anos em profundo antagonismo com o Prefeito. Eles foram convidados a tomar posse na Secretaria do Meio Ambiente (desalojando os membros do Partido Verde, ali alojados). Os Petistas estranharam um pouco, mas decidiram aceitar. Em seguida, foi decidido que o representante do PT deveria se tornar, de súbito, a indicação do Prefeito como candidato a seu sucessor ... Todavia em Junho o Prefeito traiu o representante do PT, e não apoiou mais ninguém.

youtube.com/watch?v=b5DuFsgBWYk

Em 2013 o Prefeito decidiu trair Alexandre Cardoso, que havia sido seu padrinho no PSB, e convocou um afastamento do PSB do Rio da aliança com PT e PMDB. Em 2014, com mandato de "mágico" - que escapuliu da suspensão judicial da candidatura e do mandato - se credenciava para apoiar Marina, o mais novo anjo exterminador da política nacional.

youtube.com/watch=yz3dZRaKCpk

 

Friday, August 10, 2007

13-Secretaria da Cultura

Fundação Cultural-Turística e Secretaria de Cultura

[A] A Fundação Cultural (hoje de Cultura e Turismo) ao ser criada durante o governo Sergio Fadel acumula duas funções distintas, e em alguns aspectos contraditórias.

Uma verdadeira preocupação com o que se poderia definir como uma política cultural deixou de existir com a extinção da então Secretaria de Cultura, passando a vida cultural da cidade a ser gerida em termos da “produção de eventos e festas”, num molde que seria característico de uma Fundação para o turismo.

Não seria preciso dizer que, do ponto de vista do interesse turístico, empresarial, comercial, uma fundação tipicamente turístico-cultural, tem um mérito próprio (na sociedade, no mercado) que deve ser enfatizado. Este mérito, na administração municipal, deixa de ser contraditório em relação à política cultural, como veremos adiante, caso a política cultural seja desmembrada da administração da FCTP, se tornando orgão independente.

Ao ser criada, num modelo de produção de espetáculos, a administração da Fundação Cultural passou a ser concebida como autocrática, funcionando nos termos empresariais com “gerentes”... A referência aos artistas e criadores culturais da cidade para a confecção da programação deixou de ser enfatizada: esta era de certa forma “concedida” aos artistas, que deveriam se sentir satisfeitos por receberem contratos e cachês, de uma forma individualizada, desunida, e em alguns exemplos exclusiva, e mesmo politicamente clientelista.

É hora de reestabelecermos uma verdadeira política cultural na Cidade, o que deveria ser realizado por uma Secretaria de Cultura que funcionasse como o reflexo e a representação da classe artística e dos criadores culturais da cidade. Essa Secretaria, que não necessitaria ser de grande porte, seria autônoma, em termos de um orçamento anual prévio, para a realização de cursos, oficinas e apresentações de artistas locais no padrão dos festivais anuais.

A Fundação Cultural-Turística tem sua razão de ser na produção de festas e eventos de grande porte, porém numa politica inteiramente diversa da Secretaria, por ser um orgão arrecadador de patrocínios da iniciativa privada e de orgãos nacionais/ internacionais, sendo portanto um orgão que atende aos interesses da classe empresarial ligada ao turismo e ao comércio, podendo contratar cachês artísticos de alto valor, p. exemplo. Na medida em que estão em jogo os interesses turísticos, de preservação custosa do patrimônio histórico, e a consequente movimentação vultosa de recursos, é natural que isto seja feito através de uma Fundação, que capte recursos externos, desonerarando os cofres municipais. Deve-se levar em conta que uma política empresarial e promocional bem feita, a nível internacional, pode ser capaz de gerar de fato os enormes recursos (bancos de fomento, unesco) que seriam necessários para uma verdadeira restauração do centro histórico, sem o que as restaurações continuarão a ser reformas de pontos localizados.

Sendo a Fundação capaz de trazer nomes nacionais e internacionais à cidade, uma Secretaria de Cultura tem funções bem opostas, porque teria a finalidade de fomento das tradições e da identidade histórica, promovendo as carreiras artísticas desde suas origens mais frágeis e amadorísticas, educando os estudantes nas diversas oficinas. Neste sentido a Cultura necessita ter uma Secretaria semelhante à de Educação, ou de Ass. Social.

Sob estes aspectos, a Fundação, como órgão empresarial, cosmopolita, autônomo e iconográfico em si mesmo, deveria necessariamente estar instalada num dos casarões antigos da cidade.

O Centro de Cultura Raul de Leoni, cujo prédio com janelas de vidro vedadas (que resultou de uma biblioteca com ar refrigerado dos anos 70, que nunca chegou a ser instalado), após tantos anos de uso inconveniente, ficou consagrado em sua utilização enquanto Secretaria de Cultura desde os anos 80. A sala de 160 lugares, as salas para cinema, dança, exposições, oficinas, deram ao lugar sua característica definitiva para a prática das artes e cultura municipais. Desde que realizadas necessárias reformas arquitetônicas e de ventilação, este prédio deveria ser mantido como ponto de referência social, como referência enquanto “lugar dos artistas” e Sec. de Cultura. Nesse caso, não para os espaços administrativos da Fundação, ou outro orgão.


Anos 30 em frente ao Grande Hotel: ali é o encontro do Rio que vêm do Palatinato com o Rio que vem do Quitandinha. A construção do Obelisco nesse lugar em 1957, além do péssimo mau-gosto, tirou dos passantes a visão da confluência em 180 graus dos dois Regatos.

 

[B] A partir de sua pauta inicial de trabalho, a Sec. de Cultura vai atuar em parceira com a Fundação. Com o tempo, a vida cultural que a Fundação e a Secretaria promovem, se tornam complementares. É do interesse da administração municipal que a Secretaria de Cultura dê formação a artistas locais, os quais podem ser apresentados pela Fundação em eventos de grande porte, locais ou nacionais, feiras, etc. Em consequência a Fundação pode acrescentar verbas específicas além daquelas previstas nos orçamentos anuais iniciais da gestão da Sec. de Cultura. Desta forma, apenas para realizações excepcionais, o Sec. de Cultura estará requisitando verbas extras à Fundação na base de patrocínios concedidos a partir do projeto artístico.

Uma forma clara e imediata de se definir uma Secretaria de Cultura é que ela seria uma Casa dos Artistas, lugar físico de encontro e deliberação. Esta vivência, entretanto, se daria de modo permanente, e não apenas em função de demandas localizadas, conforme é a tendência generalizada em todas relações institucionais. Através de comissões e representações setoriais, e na medida em que esta Secretaria abrigasse um bom número de salas de oficinas e cursos, os dirigentes responsáveis por esta Secretaria teriam uma visão e um contato direto, em escalar maior, das tendências e demandas dos elementos ativos e criadores na cidade, de modo que a Secretaria teria uma pequena vida social interna.

É claro que para estas funções seriam designados aqueles líderes comunitários, da classe artística, partidários, etc, ligados às preocupações sociais. O perfil desta Secretaria é bem diverso do atual modelo empresarial-clientelista da Fundação, sendo um orgão com finalidade de fomento e proteção ao corpo social, como as Secs. de Assistência Social e Meio-Ambiente, operando portanto com uma visão de orçamento a fundo perdido.

A demanda de que o Secretário de Cultura tenha já previsto e designado, a cada ano, seu orçamento básico para a produção cultural, é compensada pelo fato de que este orçamento é infinitamente menor em vista das outras Secretarias municipais.

 

Diretor de Cultura

[C] Um Secretario de Cultura, nestes termos, se torna um verdadeiro Diretor de Cultura: como membro da classe artística, suas políticas são consequência da vivência direta dos desafios ao longo do tempo. Assim, ao assumir a administração pública, este Secretário estará apenas concentrando mais na instituição pública aquelas reflexões e experiências já existentes. Com o tempo, uma Secretaria de Cultura, como local de encontro da classe, passa a ser fomentadora das políticas culturais, além dos programas culturais.

Sempre buscando o ofício da experiência direta, em lugar da burocratização e da regulamentação que parecem sempre ilusórias formas de eficiência e igualitarismo, a administração de uma Sec. de Cultura se resolve da forma mais simples e tradicional:

Um Diretor de Cultura (o Secretario, com 1 ou 2 assistentes) tem a função central junto a um colegiado de diretores, designados segundo cada setor artístico. Um Diretor para Teatro, um Diretor para Música, um Diretor para Artes Plásticas... Havendo mais setores do que possibilidades para diretores, estes podem acumular diretorias: o mesmo de artes plásticas cuida do artesanato, p. ex, ou o de música erudita atende igualmente a música popular. Ou os setores artísticos sem diretorias próprias podem ser acumulados pelo Diretor-Secretário.

Havendo possibilidades de Diretores suficientes, as categorias são desmembradas: um Diretor para pintura contemporânea, outro para pintura figurativa; um Diretor para música erudita, outro para popular: ou talvez um para dança clássica e outro para street dance, jazz, etc. Para o setor musical, 3, mesmo 4 diretorias, podem ser consideradas; (ou ainda, de modo criativo, uma diretoria para pintura abstrata e jazz, e uma outra para música clássica e pintura expressionista)...

É claro que critérios artísticos precisam definir estes setores e diretorias, de acordo com os contextos históricos reconhecidos, o que jamais poderia caber numa planilha burocrática-funcional prévia.

Uma Assessoria de Imprensa. Funcionários de manutenção e serviços para salas de apresentações, exposições e oficinas.

Além disso, uma Direção para cursos e oficinas, que pode ser da Assistência do Sec.-Diretor. A forma tradicional de agendamento de cursos e oficinas é a que mais favorece o desenvolvimento artístico conforme o verdadeiro perfil da sociedade: a Secretaria fornece salas e equipamento e faz o agendamento dos cursos e oficinas com tarifas de preços acessíveis aos estudantes. Estas são repassadas no todo ou em parte ao professor. Não seria necessário se ter admissões gratuitas a não ser para os casos especiais. Ao contrário das formas de planilhas que resultariam de um enredo interminável de regulamentações, o agendamento de cursos e oficinas resulta simplesmente da capacidade de discernimentio de um Diretor. Sempre em função dos espaços disponíveis, um Diretor decide pelo agendamento de, digamos, um entre três projetos do mesmo tipo para oficina ou apresentação artística. Os outros dois pedidos não atendidos serão compensados no tempo; ou no espaço, p. ex., dirigindo um grupo para outro Teatro de bairro que não a Sala-Teatro da Sec. de Cultura.

Nesse caso um Diretor (Secretário) de Cultura estaria realizando sua tarefa típica de orientar um determinado grupo artístico que tenha dificuldade de agendamento por sua natureza demasiado amadorística: ao invés da simples não-inclusão administrativa, o Diretor dá sugestões para a formação do grupo em início de carreira.

 

Caminhão de Cultura

[D] Além de conhecer e atender politicamente as demandas culturais e artísticas da cidade, um dirigente cultural deve ser capaz de projetar políticas necessárias, mesmo não requisitadas, como p. ex., um projeto de Caminhão de Cultura. (É necessário um projeto de caminhão com palco que percorra os bairros da cidade aos domingos levando teatro, música, dança e educação, para uma tentativa de se desviar o hábito arraigado da televisão.)

Um exemplo no qual o Secretário faz um projeto específico para obter dotação da Fundação poderia ser o de apresentações nas praças da cidade. A Fundação, neste caso, estaria incluindo estes espetáculos em seu roteiro turístico. É importante que a programação seja consequência da vida cultural interna da Secretaria, e não o oposto, tal como atualmente, em que a vida cultural segue a reboque dos eventos isolados de programação.

O hábito consagrado de se realizar concursos (pintura, teatro, música) para a promoção artística no Município precisaria ser reforçado enquanto experiência de jornadas, e experiências coletivas, e menos enquanto atribuição dos prêmios: a atribuição de “prêmios” em valores monetários aos primeiros (segundos, terceiros) lugares desestimula os “perdedores”. Para cada mostra, os “prêmios” deveriam ser os mesmos para todos os classificados. Melhor ainda, o prêmio artístico a ser entendido deve ser a apresentação num festival de escolhidos. Neste caso, a Sec. de Cultura apenas repassa a bilheteria do evento aos grupos “vencedores”.

O hábito da “disputa” entre concorrentes, que parece tão inocente, a rigor, não favorece o desenvolvimento artístico. O burocratismo das licitações e regras para concursos acaba por consolidar o espírito de competição como critério para escolha. A direção da cultura, no entanto, é um ato político, que pode seguir uma ética de compensações, e conforme o conhecimento técnico e específico das artes. Esta direção, feita por representantes da classe, visando objetivos específicos, preferenciais, deveria substituir o trabalho constante das comissões de jurados que, de modo aparentemente regrado e virtuoso, designam “vencedores”, que se distinguem de “perdedores”, e assim por diante.

 

[E] Na concepção dos “centros de cultura”, a exemplo dos centros de Nogueira e Pedro do Rio, e principalmente do Raul de Leoni, o mais importante é a atividade ininterrupta de cursos, encontros e apresentações, criando atividade social junto com atividade cultural para o público interno, sem necessidade de divulgação como grande espetáculo.

Em outros centros, como Casa Stephan Zweig e Casa do Alemão, é importante não se restringir somente à apresentação de acervo e informações, que se tornam pouco visitados, mas também, a exemplo dos outros centros, que sejam locais de atividades culturais específicas, constantes.

Na Casa do Alemão, conforme já indicado por membros do Clube 29 de Junho, poderia se instalar um clube cultural, como extensão do próprio 29 de Junho.

Alternativamente, a Casa Stephan Zweig poderia se conjugar com um clube cultural alemão. (Nesse caso, p. ex., a característica ideal do sobrado antigo na esquina próxima das Duas Pontes). Biblioteca com edições brasileiras de Zweig, edições alemãs de Zweig e autores seus contemporâneos, aulas de alemão, cinemateca alemã, cervejaria, etc, seriam modos de se preencher e justificar a referência à estadia do cronista em nossa cidade.

 

[F]Um exemplo de parceria natural entre a Fundação e a Secretaria seria a Festa do Alemão. Sendo a organização da festa tarefa da Fundação, é necessária na Feira uma barraca de cultura alemã, onde se fale o alemão e se receba turistas, com mapas do século dezenove da Alemanha e de Petrópolis, referências às famílias, à culinária, à geografia, etc, escritas em quadros em alemão e português – esta seria a tarefa da Sec. de Cultura. Seria interessante também a instalação de sala de agências de viagens, com referências à Alemanha atual, de modo a atrair turistas brasileiros para a Alemanha, e alemães para Petrópolis.

Uma vez que o Centro Histórico possa sofrer reformas para um calçadão quase contínuo, de modo a se tornar mais convidativo para turismo, a Festa do Alemão poderia ser estendida no espaço, para compensar o adensamento que provoca nos dias de seu calendário habitual. Sendo diversificada ao máximo com expressões artísticas, e sendo a principal atração turística do Município, a Festa do Alemão poderia ainda ser estendida no tempo, todo o mês de Junho, p.ex.. Desse modo seu valor comercial se estende mais, diminuindo o impacto ambiental cotidiano.

Seria interessante o deslocamento do monumento dos Expedicionários, para liberar a área central da Praça do Teatro (um novo nome...) para uma central de turismo. O prédio do Grande Hotel, numa tal paisagem urbana reformada, seria idealmente adquirido pelo poder público para se tornar Arquivo Municipal, Museu de História local, e um restaurante turístico no último andar. Para tanto, seria concebível a instalação de um elevador externo ornamental que criasse um ícone turístico. Num tal projeto, poderia se convencer a opinião pública a substituir este novo ícone turístico pelo atual obelisco, “monstro sagrado”, mas na verdade monumento pouco estético. No prédio do Grande Hotel haveria salas de memória sobre os emigrantes alemães, italianos, sobre os expedicionários da 2a Guerra, etc, de modo a compensar a demolição do obelisco como monumento celebrativo.


Nossa Princesa Isabel: nem Rainha; nem insustentável Imperatriz...















A Lei de proibição do trabalho escravo teve valor mais iconográfico ou simbólico, do que prático: porque seria necessário igualmente dar aos libertos lugar de vivência, e material de produção. Porém, devido ao impacto econômico e moral sobre os feudais-burgueses, a Princesa foi destronada por um golpe de estado militar. Este novo regime tem a característica de uma ditadura de burguesia rural contra a ascensão das classes trabalhadoras, ao passo que a monarquia da Princesa seria social-reformista. (Nas décadas de 10 e 20, os comunistas e anarquistas se multiplicaram; e talvez por causa disso mesmo).

Somente a revolução de 1930 pode ser considerada o início da vida liberal burguesa brasileira, no sentido de um estado republicano capaz de substituir a ordem monárquica.

 

Reflexões sobre o Sentido do Patrimônio Histórico em Petrópolis do Ponto de Vista do Turismo e da Formação Cultural


Sécs XIX e XX

[1] O hábito de se guardar peças, monumentos e edificações para a admiração de visitantes em suas passeios de lazer parece tão justificado e arraigado que mal nos damos conta do quanto podemos estar perdendo em termos de real patrimônio histórico. Também em relação aos estudantes do segundo grau, p. ex., cujas visitas aos museus deveriam ser atos cívicos e de instrução, mas que apenas resultam em contidos e solenes atos de admiração... Visitantes de cidades interioranas, num outro exemplo, estariam em nossa cidade ávidos para ter em seus olhos o ouro da coroa monárquica e as cenas da guerra do Paraguai em heróicos painéis.

A cultura da homenagem, da reverência, da eloquência patriótica em relação aos vultos históricos têm sido um ritual já tantas vezes repetido e consagrado: Tiradentes e D. Pedro I; o Barão de Mauá e Santos Dumont; a Princesa Isabel e Rui Barbosa, todos pertencentes a uma paisagem ideal de vultos que cabe demonstrar ao turista atônito e ao estudante distraído.

Rituais que se tornam cada vez mais fáceis ao longo das décadas na administração pública, numa monótona sequência de calendários, ícones, santuários, exaltações, comemorações com frases feitas para estudantes.

Entretanto, qual é o verdadeiro patrimônio histórico que se está a perder de vista depois de tantas décadas de celebrações oficiais de ícones?

São as informações que dão a conhecer a história de como vivia nossa sociedade, quais eram as características dos povos nos séculos de formação, seus costumes; quais as forças e interesses em jogo na vida econômica, como se deu o esforço político de manter a unidade nacional, e assim por diante. A possibilidade de se vivenciar as cenas históricas como educação cultural, cívica, interpretativa.

Não havendo uma educação histórica para os monumentos eles se tornam apenas uma burocracia turística, uma bilheteria, um breve circuito antes da gastronomia.

[2] Para se substituir a cultura do deslumbramento e das homenagens seria necessário se rever a imagem de cidade histórica, tal como é dada ao turismo, enquanto “cidade imperial”. Ao invés do ícone, que deveria ser dado ao interesse turístico, cultural, educativo, de “cidade-patrimônio do séc. XIX” (e ainda da República Velha)  -- o que temos é um ícone, e um jargão simplificador, que designa de “imperial”, todo um período, um acervo, que correspondem de fato à imagem de um Reinado “tropical”, cheio de desafios e contradições...

Em que pese a unidade militar e linguística ao logo do litoral, a imagem de um “Império”, que vem de tempos alexandrinos e romanos não corresponde exatamente à mistura de etnias, selvas e sertões inconquistados; e conflitos militares permanentes para se manter uma extensão territorial que é de fato assombrosa (por comparação com as nações espanholas). Entretanto, o domínio sobre a extensão territorial não significa a unidade nacional monárquica, de formação dos povos, de administrações regionais, e cartas legais sobre todo o território.

Enquanto verdadeiro Reinado, sem as exaltadas pompas patrióticas, a nação luso-brasileira de Dom João VI a Dom Pedro II nos desperta, por razões mais realistas, a admiração, o interesse para estudo, a curiosidade, e ainda o culto dos feitos heróicos e simpatia compreensiva para com os atos desastrados.

Por um aspecto, a imagem de “império”, escolhida pelo herdeiro de Dom João VI como grandioso programa político futuro, não deveria supor seu uso qualificativo para as cidades-sede ou de veraneio de nossos estimados monarcas: a transferência adjetiva se justifica como referência inicial ao patrimônio, como comentário sobre quem construiu tais urbanidades – não se trata de roubar o sentido turístico evidente: Entretanto, num sentido acadêmico, e no sentido de se educar os turistas e estudantes para além da identificação mais fácil, a reincidência do adjetivo imperial revela deslumbramento e preguiça mental em se contar verdadeiramente a História dos períodos, monarquia e república velha. A repetição mecânica e laudatória torna mais enfadonha a visita turística, ao passo que as verdadeiras informações sobre como se vivia, quais eram as formas das sociedades históricas - dariam ao turista, ao estudante, o enlevo e a curiosidade para uma visitação mais demorada.

O excesso de exaltação leva a seu oposto: a depreciação, a sátira, a destruição da brasilidade enquanto auto-estima. Por razões que poderiam ser determinadas, a cada sentença patriótica padronizada, o “descobrimento”, a “chegada da corte”, a “proclamação da independência”, a cultura brasileira real criou seus negativos, com anedotas depreciativas. É como se uma parte da brasilidade se voltasse contra si mesma, não permitindo a formação de imagens mais sinceras e interpretativas.

Este aspecto é bastante relevante para os estudantes do 2º Grau, que estão formando sua imagem histórica da cidade junto com sua cidadania. A repetição das anedotas fáceis sobre os feitos históricos, assim como sua exemplificação em um elenco mínimo de atos isolados que devem servir para memória, exaure inteiramente o sentido educacional que se poderia esperar.

Numa revisão mais sensata, as idéias de “cidade histórico-turística” (clima e ambiente), ou “cidade oitocentista” (como Ouro Preto, cidade setecentista), ou “cidade histórica da monarquia e república velha” (adequada definição acadêmica) corresponderiam aos ícones mais autênticos, que deveriam estar numa primeira linha de expressão para a linguagem pública e administrativa; e de compreensão para interessados na História. A idéia de “cidade imperial” apenas como uma qualificação auxiliar, nos dispensa da fatal tonalidade provinciana com que aparecemos ao público mais educado.

Há uma certa ilusão de auto-estima nos repetidos adjetivos “imperiais” adotados a cada monumento; da mesma forma a aspiração a um certo “condado aristocrático”. Entretanto, estas aspirações imaginárias correspondem a realidades palpáveis, a serem adotadas como auto-estima: “Nesta cidade projetada por um engenheiro renano no séc. XIX, convocado pelo Rei, nós podemos desfrutar de um ambiente histórico e aristocrático”. Ao invés do “monarquismo”, a compreensão dos valores aristocráticos para o estudante de História. Ao invés do deslumbramento ingênuo, a curiosidade e o lazer culto para o turista.

Se torna claro que as leituras sobre as monarquias e o período aristocrático europeu são atualmente todas feitas a partir da revolução burguesa e dos valores da nova classe burguesa e seus autores no séc. XIX. Isto explica ora uma exaltação desproporcionada por parte daqueles que gostariam de estar na condição aristocrática; ora inversamente, explica um certo ressentimento em ler o período aristocrático-monárquico somente sob seus aspectos críticos. Isto se repete em nossa cidade até nossos dias, impedindo uma leitura interpretativa e útil sobre o patrimônio. (Que se estende continuamente como urbanização mais elegante durante a República Velha).

Seria necessário assim destronar conceitualmente a imperialidade dos dois Pedros -- E lhes conceder um papel mais realista de Reis lusitanos tropicais. Esta seria a forma compreensiva, de uma Cultura, em resolver as contradições de uma identidade nacional imperializada, ora exaltada, ora desconhecida, ora depreciada. É nesta imagem de benevolentes Reis lusitanos que podemos depositar nossos respeitos cívicos e nossas celebrações de auto-estima: sendo os monarcas compreendidos por sua sincera devoção ao povo; e da mesma forma por suas ausências, por sua falta de objetividade, ao merecer os títulos imperiais – e assim por diante, numa sequência lógica e sentimental coerente.

Esta imagem de Dom Pedro, primeiro Rei do Brasil, e vigésimo-oitavo Rei de Portugal, apoiado e aceito pela burguesia nacional em seu advento, com suas abdicações e convicções anti-absolutistas, que devemos abrir ao estudante como História; que interessa ao turista ouvir o relato cheio de peripécias. Como um “Rei”, de dimensão compreensível, anti-escravagista, capaz de sair com seus auxiliares pelas noites quentes do Rio de Janeiro. Como “Imperador”, incompreensível, um enigma, como se existisse somente para os grandes atos se tornaram os ícones patrióticos.

[3] Sem dúvida não há ato administrativo, ou legal, que poderia nos levar a destronar um Imperador de imagem grandiloquente, difusa e contraditória, e dar posse a um Rei, que fosse mais popular, mais compreensível, mais útil àqueles que querem visitar sua imagens para saber como se formou o mundo brasileiro.

Os orgãos públicos poderiam apenas colaborar para a disseminação de idéias de valor histórico adequado, sob o interesse da cidadania, e também do turismo.

A solução para a falta de cultura crítica sobre o patrimônio histórico petropolitano se daria naturalmente com a implantação de um Instituto de cursos de extensão e de pós-graduação em História e Ciências Sociais Brasileiras na cidade.

Levando-se em conta sua tradição de Ciências Sociais e História, e possivelmente as possibilidades de atribuições funcionais e administrativas, mais provavelmente a Universidade Federal Fluminense poderia ser cotada para instalar um tal Instituto de Pós-Graduação.

Simultâneamente, seria necessário se saber qual disponibilidade e interesse a administração do Museu Imperial teria em participar, tendo em vista seu acervo bibliográfico. Esta seria uma iniciativa que poderia ser tomada pela Prefeitura Municipal, através da Fundação de Cultura.

Igualmente, o Instituto Histórico de Petrópolis deve ser mencionado por seu papel pioneiro, e por ter antecipado esta necessidade de extensão acadêmica na cidade. Levando-se em conta ainda seu acervo de estudos, artigos e literatura, a direção do I.H.P. poderia ser convidada a participar da coordenação de tal projeto.

[4] Em relação à expectativa turística, para turistas que deveríamos estar recebendo dos países europeus, incluindo aqueles pertencentes a nosso passado, a imagem de império e admiração de palácios se torna provinciana porque os palácios de verão da serra petropolitana são cópias menores de algumas dezenas de originais portugueses, espanhóis, franceses. Pela mesma lógica, estes turistas, que jamais nos visitam, teriam interesse em subir a serra por uns dias de mata atlântica e mansões oitocentistas de colonizadores – desde que este cenário fosse um fundo pitoresco para seu lazer/veraneio sulista. (Tenha-se em conta, p.ex., a quantidade de navios atracados na praça Mauá no verão, com milhares de turistas para o Carnaval, que poderiam estar se tornando turistas serranos).

Ao invés dos ícones de exaltação e pontos de peregrinação, que não interessam a estes turistas internacionais, o que teríamos aqui seria uma paisagem pitoresca, na qual as informações históricas são apenas um fundo agradável para programas artísticos e gastronômicos. Para tal, os quarteirões em torno do que se convencionou chamar de centro histórico seriam definitivamente adaptados como áreas de “calçadões” contínuos, com restaurantes, quiosques, bares musicais, de modo que o turista realmente se sinta motivado a tomar o conjunto do ambiente histórico como seu local de visita. A socialização com as gentes de uma cidade sul-americana é tão importante para o turista (tal como para nossos visitantes no exterior) quanto a tomada das informações históricas, ou a boa comida. Através das decorações boêmias e artísticas do centro histórico, de seu ambiente receptivo, o turista absorve com interesse as informações históricas: a época “monárquica”, a “Guerra do Paraguai”, a “República Velha” - (A trilha de Bernardo Proença em 1724, até a selva densa e encharcada, onde depois Dom Pedro, das dinastias de Bourbon & Bragança, teve dificuldades para iniciar a construção de seus palácios de verão...)

Como ponto central de referência ao turista, a praça dos Expedicionários teria sua destinação revista, para abrigar um amplo quiosque de recepção, onde se teria o anúncio da programação cultural, com venda de tickets para programação cultural conjugada com visita aos pontos históricos. Um mapa vertical, artístico, com as indicações de interesse ao turista; guichet de contato para guias, etc. O monumento militar dos Expedicionários cederia seu lugar para esta nova praça, sendo escolhido outro local igualmente valorizado para este monumento, acrescido de mais informações militares para um memorial. Ao valor desta praça enquanto “praça do Teatro” se acrescenta o valor turístico, concedendo um aspecto cosmopolita e acolhedor ao Centro Histórico. Nas praças Rui Barbosa, e do monumento Koeler junto à Catedral, mais dois quiosques de recepção turística reforçam o aspecto acolhedor do Centro, de modo que o turista se sente motivado a percorrer a pé, por conta própria, os quarteirões.

[5] É nesse cenário que uma Fundação de Turismo e Cultura tem seu papel realçado como órgão planejador da Cultura petropolitana, além de produtor de eventos e realizações artísticas:

Promovendo a imagem internacional da cidade. Promovendo uma visão realista e autêntica sobre o sentido do patrimônio histórico. Educando o cidadão local para a perspectiva histórico-turística. Colaborando com uma Secretaria de Cultura independente, para a aplicação de programas baseados na reflexão crítica, especializada, sobre a História local. Assumindo a iniciativa para a implantação de um Instituto de pós-Graduação (sécs. XIX e XX). Articulando as experiências e os acervos do Museu Imperial e do Instituto Histórico. Articulando o interesse empresarial sobre estas atividades turísticas e culturais, incluindo-se o da empresa jornalística da família Orleans e Bragança – estes que seriam os primeiros interessados em se “destronar” um Imperador abstrato e monumental, em lugar de um “Rei” mais plausível e sedutor.

[6] Ainda que o antigo Centro de Cultura Raul de Leoni, novamente transformado em Secretaria de Cultura (tal como nos anos 80), não viesse a se tornar órgão independente da Fundação (conforme em outro documento de projeto), seria necessário que se fizesse um desmembramento de atividades e atribuições internas desta.

Uma Secretaria de Cultura, como órgão não-empresarial, tipicamente governamental e de fomento, lida diretamente com o público interno, com os artistas da cidade, para o desenvolvimento de projetos culturais, na forma de concepções artísticas, interpretações históricas, etc. Uma Fundação Turístico-Cultural, como órgão empresarial, reforça os programas da Sec. de Cultura, promovendo a imagem nacional e internacional da cidade.

É a Fundação, enfim, que tem a capacidade executiva de propor os projetos de turismo e cultura, em paridade com o conjunto das políticas governamentais da Prefeitura, influenciando na determinação destas políticas. Certamente, não como um órgão que trata de suas administrações de forma isolada, autônoma, porém sem interferência nas decisões que afetam o conjunto das políticas administrativas municipais.


Reformas Urbanas

[a] Para merecer seus títulos turísticos, já há muito a cidade petropolitana deveria ter obtido o controle completo da Prefeitura sobre as linhas de ônibus. Fica claro que não se pode falar de cultura, de artes, de turismo, se não somos capazes de resolver os problemas de trânsito. Para que o Centro Histórico fosse formado por calçadões quase contínuos, seria necessário que as vias centrais fossem atravessadas por faixas únicas e exclusivas para carros particulares, e faixas únicas e exclusivas para coletivos de maior porte. A aplicação das linhas exclusivas axiais, ligando os extremos da cidade não foi feita ainda em nossa urbe, apesar de consagrada pelo mundo afora. Estas vias exclusivas podem comportar coletivos maiores e frequentes, ao passo que em suas pontas, linhas de coletivos de pequeno porte podem partir na forma de estrelas regionais.

Quais os atos cívicos, políticos, administrativos necessários para que as linhas de ônibus sigam trajetos mais razoáveis e sob o controle do interesse público? E não de acordo com a autonomia das empresas em escolher trajetos e carrocerias de coletivos inadequados? Como se realizar a necessária duplicação da entrada/saída da Rua-avenida central através do túnel no interior da abandonada fábrica Alcântara? (Agora que a Companhia de Águas privada instalou sua estação de filtragem no caminho?) Por sua vez o hábito do automóvel individual, arraigado para as classes médias que reclamam do departamento de Trânsito... como poderia ser substituído por um outro hábito de se dirigir ao centro histórico?

Nenhum destes costumes poderiam ser modificados através de leis ou decretos institucionais. Somente através da compreensão coletiva de sua necessidade de modificação, através do sacrifício individual para com o interesse público, poderiam novos costumes ser instaurados. Nesse sentido é que compreendemos a necessidade da educação cultural, que precede os atos cívicos e políticos.

[b] Uma verdadeira interferência na paisagem arquitetônica e no trânsito no Centro Histórico – para que de fato se tornasse aprazível ao turista, e justificasse seu nome – só teria sentido político e ético, se fosse compensado por outras interferências na paisagem urbana, abrindo espaços recreativos e comerciais para as classes trabalhadoras, rurais e médias dos bairros afastados. Jamais uma interferência urbanística, como ato administrativo, como realização de obras, poderia ser admitida, sem o encaminhamento prévio à comunidade, na forma de um projeto econômico, ou de convivência social. Neste caso, projeto de educação cultural.

A exemplo da administração municipal 2004-2008, que deu início à reforma da paisagem no centro da cidade sem liderar a comunidade, sem apresentar um projeto social coerente (trânsito, comércio, turismo), é preciso evitar o sentido de obras que surgem como atos administrativos autocráticos, que não resultam de uma coerente composição do interesse social. Na medida em que obras de interferência resultam da articulação da Prefeitura com as classes e setores econômicos, elas são previamente entendidas e aceitas, em qualquer prazo ou proporções de contratos.

Não há funcionalidade pura de pranchetas técnicas que possa substituir a habilidade política em compor e recompor o interesse social, de compreender e interpretar as necessidades físicas do Município. Uma reforma exemplar do Centro Histórico resultaria num perfil econômico de preços mais elevados nestes quarteirões, em relação ao padrão do Município, em função do comércio turístico mais refinado, o que é do interesse de um setor de classe. Uma interferência tipicamente compensadora, seria a caracterização de uma área de mercado e cultura popular no entorno praça da Inconfidência / Mal. Carmona / Rodoviária. Com uma certa habilidade em se distribuir os espaços abertos de feiras, as quitandas, os super-mercados e terminais de ônibus, esta área seria “popular”, porém não numa descontinuidade de cuidados arquitetônicos e aparência com a parte central, mas num sentido compensatório para se alojar o comércio de utilidades afastado do setor turístico. A habilidade administrativa estaria em atrair os turistas para as feiras populares; no outro aspecto, não permitir que as classes de menor renda se sintam excluídas do Centro Histórico, criando atrativos internos na forma da educação cultural, artística.

Característica de uma administração autocrática, tecnocrática, que não interpreta as necessidades sociais, a rodoviária-terminal do Bingen, é exemplo de desperdício em investimentos “faraônicos”, de duvidosa concepção e ausência de preocupação com seus efeitos na vida diária profissional dos cidadãos. Levando-se em conta estatísticas de cerca de 18 mil petropolitanos que trabalhavam no centro da cidade do Rio de Janeiro, até a inauguração deste terminal, seria mais sensato se manter uma quantidade de linhas da rodoviária central (Mal. Carmona, ou outra) até o Castelo. Estas saídas do Centro para o Rio de Janeiro dividiriam os passageiros com mais 3 terminais para o Rio: do Bingen, do Quitandinha, e de Itaipava. Nos fins-de-semana, as viagens até a rodoviária central permanecem para os turistas.

O terminal do Bingen, feito para atrair turistas para o comércio do bairro, é um local de névoas geladas, como se sabe, que seriam em si mesmas atrativos “turísticos”... Entretanto, por ser lugar inóspito (em conflito ambiental, perigoso para ônibus de passageiros na br-040), deveria ser desativado para passageiros, com exceção de ¼ das linhas para Rio / Niterói. Mantendo-se sua estrutura, se transformaria em terminal de cargas.

Na saída Quitandinha, onde está o atual super-mercado “sendas”, também uma praça de mercado popular, comércio de utilidades e terminal de ônibus poderia ser instalada. Desse ponto sairiam ¼ das viagens para o Rio. E ainda uma quantidade de linhas locais de pequenos ônibus e transportes menores. É importante observar que os embarques para ônibus em “praça aberta” são mais interessantes para a população, e não os embarques em terminais fechados, onde se fariam as baldeações. Nesse caso, aqueles que se dirigem a suas residências ficam encerrados e entediados, sem acesso à praça comercial. Nessas praças a Prefeitura também deve investir em eventos artísticos e educativos. Com mais uma praça deste tipo em Itaipava/Bonsucesso, e terminal para mais ¼ das viagens ao Rio, podemos compor um projeto para a paisagem social de Petrópolis.

(c) Como um aspecto a ser considerado, do ponto de vista da formulação da cultura de nossa aristocrática cidade serrana, do ponto de vista da descoberta de sua identidade e auto-estima, uma reflexão final deve ser dirigida ao fato de que uma classe média se formou na cidade a partir do comércio, com uma certa identidade nos anos 60 e 70. Nos anos 80 e 90, uma outra classe média, com perfil de renda um pouco mais elevado, veio do Rio de Janeiro, para se instalar na cidade, disputando com a classe média inicial, por assim dizer, seus espaços habitacionais, culturais, políticos. Esse aspecto explica uma certa dificuldade em se definir a vocação da cidade, e deve ser levado em consideração cuidadosamente, ao se definir projetos municipais socialmente consequentes.

C.M.B.

2004//2012


Wednesday, August 8, 2007

12-Da Cultura

Notas da Cultura

Tribuna de Petrópolis

27 de Setembro de 2001

a) Para a maioria das pessoas Arte e Cultura são apenas Representação e Entretenimento. Faríamos canções, ou pinturas, ou peças teatrais apenas para celebrar tudo aquilo que já está, de uma forma ou de outra, reconhecido pela tradição. Para muitos, o Estado deve fomentar a Cultura no sentido de proteger os “direitos” daqueles que querem expressar profissionalmente a representação e o entretenimento, oferecendo salários públicos.

b) A parte mais relevante da criação artística, entretanto, tem sido estranha aos estados constituídos, estranha mesmo a qualquer fomento. Para muitos artistas é necessário “pagar” para poderem apresentar socialmente suas criações. Neste outro sentido, oposto ao anterior, estão os artistas radicais, que se vêem como revolucionários, e que só podem conceber a arte como contestação das formas sociais constituídas. Estes artistas, assim, deparam-se, queixosamente, com uma marginalidade já previamente suposta.

c) Neste divórcio, o Estado acaba por se tornar apenas um conservador de arte e cultura, protegendo a cultura conservadora. Na cultura conservadora estão os “eruditos”, aqueles que são capazes de reapresentar de forma cumulativa a história cultural, com acervos cada vez maiores de fatos já sabidos, ou que devem ser sabidos, de maneira a celebrar a Representação e o Entretenimento.

d) Numa nota especial na história da cultura conservadora devemos contemplar o Pedantismo: o fim da crítica e da auto-crítica, o exibicionismo da pessoa em torno de uma mesma questão consagrada, o ritual das homenagens mútuas, o reconhecimento do que já está reconhecido, a impossibilidade de criar, a linguagem legítima só pelo dicionário, a exposição do repertório cumulativo inútil, a cultura como bagagem – não como carruagem

e) A cultura clássica, habitualmente, é a maior vítima do Pedantismo. Na cultura clássica, alegria e serenidade se encontram, a tragédia, o humor e o romance se substituem infinitamente. Para muita gente, seria assustador, por exemplo, descobrir em Homero o tom desmesurado, aventureiro, arbitrário, por trás das traduções solenes, vetustas e empoladas.

f) De um lado a Cultura como Conservação, de outro como Transgressão: é difícil encontrar o comentário que descobre uma marca original, a crítica que descobre um valor falsificado no que foi consagrado, a nova versão que realça tons que estavam indefinidos, a recriação daquilo que foi dado como Real.

g) As sociedades felizes desenvolvem artes que têm o caráter clássico: a celebração devida de algo que esteve por muito tempo em maturação, que nasceu da contradição e da dificuldade, mas que, finalmente, pôde ser constituído e expresso. As sociedades estagnadas necessitam da arte revolucionária.

h) Somente um estado revolucionário pode sustentar arte revolucionária. O revolucionário não é a guerra civil. O revolucionário pode ser bastante pacífico e sutil: em verdade, é o revolucionário que pode evitar a guerra civil. Revoluções se tornam violentas quando inviabilizadas, pela violência sofrida, ou pela repressão sistemática à mudança, que se apresenta historicamente.

i) Em nossa cidade, os heróis do conservadorismo e da arrogância, duques e barões assinalados, continuam a fomentar o ódio ao Esclarecimento, disseminando preconceitos e a lógica maniqueísta. A diferença entre pobres e ricos é reiterada e estratificada, de modo a que os ricos tenham o mérito por sua riqueza, e os pobres a culpa por sua pobreza... Como se sabe, há muita pobreza espiritual que é consequência da riqueza material, assim como é possível o surgimento de gênios dentro da pobreza material.

j) Numa direção oposta ao sectarismo dos duques e barões assinalados, podemos observar o sectarismo da arte que denuncia a “repressão”. Tentando alcançar um caráter romântico, toda a ação está concentrada numa explosão emocional contida, que precisa ser “liberta”. Ao invés de libertários, tornam-se os sempre sofredores-da-arte, que necessitam da repressão, como tal, para a montagem de um sentido estético.

k) Em nossa pseudo-modernidade de celebrações tecnológicas, uma consideração especial deve ser dirigida aos artistas de teatro: rodeados por todas as máquinas que nos seduzem, estes artistas são capazes de entrar em ação apenas com a máquina de seus corpos.

l) O fato de a Arte Naïf ser tratada como tal, mostra como é difícil a conceituação do valor artístico. Por outro lado, a capacidade de pesquisa e elaboração de alguns artistas, inseridos em épocas ou classes sociais “ricas”, requer o reconhecimento de uma certa afirmação de valor elitizado. Os heróis do sectarismo confundem propositalmente o valor estético elitizado com o sentido de elite social e econômico valorizado, obliterando a abundância de produção Naïf na classe burguesa.




Palácio de Cristal numa data incerta... A rigor, o que nós sabemos, é que o palácio teve sua existência roubada no tempo algumas vezes. Nos anos 30 e 40 abrigou o Instituto Histórico da Cidade.

 

m) Um sectarismo mais recente, baseado num deslumbramento para eles original sobre um tema antigo, é o daqueles que acreditam ser a pintura abstrata não a conquista ritualística de uma etapa da experiência, mas a consagração consumada da arte pictórica (em termos da história da cultura ocidental). O dualismo abstrato versus figurativo é explorado como se encerrasse a chave filosófica da interpretação estética, resultando num discurso entediante.

n) A qualidade de abstração que é identificada à pintura contemporânea é fruto de uma pesquisa na direção das formas, substâncias e colorações originais na possibilidade da expressão, assim como das “forças” as quais pode possuir, ou ser por elas possuído, o artista que preenche uma tela. A arte que é “contemporânea” é um ritual de passagem e um comentário sobre o que já foi vivido.

o) Provavelmente, ao longo do tempo, a arte da pintura terá muito mais a característica mista abstrato-figurativo, do que as características exclusivas somente abstrato, ou somente figurativo. A tensão entre as duas concepções certamente retornará infinitamente no tempo cultural.

p) A arte revolucionária (ou qualquer ação com este caráter) deve ter a semelhança de uma Contracultura. Consequência, principalmente, do Pensamento da Costa Oeste norte-americana nos anos 70, a Contracultura se diferencia do revolucionarismo dialético, do alternativismo, do anarquismo, do pós-modernismo, da integração forçada, da decadência, da contestação e das “anti-culturas”.

O gesto dialético está profundamente envolvido com aquilo que deseja negar, ou superar, de modo que uma nova modalidade só pode surgir comprometida, numa ligação estrutural, com a velha modalidade: O diálogo é exaustivo, passo a passo, por meio de acordos e desacordos, de afirmação e negação, um recuo depois de cada avanço... A cultura dialética vive de uma ética tímida, sem o brilho estético ou filosófico.

Enquanto o Alternativismo é o simples afastamento e tentativa de sobrevivência ao largo, a Contracultura (no original, movimento de contraponto e retorno) é o ritual do afastamento, reconstituição da Cultura num sentido autônomo e crítico, inclusive das tradições, e reinserção polêmica na cultura oficializada. A condição interna do ato é de independência e provocação. Ao invés da contestação, a cultura oficial recebe um “presente”, que é suficiente para neutralizá-la, ou desconstruí-la.

C.M.Barroso – Centro de Cultura Raul de Leoni

10-Prefeitura Petropolitana

Prestando Contas

Diário de Petrópolis

28 de maio de 2002

O prédio que abriga o Centro de Cultura Raul de Leoni (que muitos ainda confundem com os outros orgãos públicos ali abrigados, Sec. Recursos Humanos, Decon, Desup, Dívida Ativa, e Arquivo) tem uma história engraçada e difícil, devido a ter sido construído segundo um projeto arquitetônico imaturo e mal-resolvido em diversos pontos, conforme é opinião comum.

O prédio deveria abrigar uma biblioteca pública de alto nível, climatizada, razão pela qual tinha todas as paredes de vidro perfeitamente vedadas. Com o passar do tempo, os dutos e várias pesadíssimas máquinas de refrigeração ficaram abandonados e enferrujaram. O Centro de Cultura virou uma estufa tropical de cultura, que permite obervar desde seu interior, apesar dos pesares, a bela paisagem e a botânica do Centro Histórico.

É incrível que tantos governos em 25 anos não tenham realizado a ventilação e a solução arquitetônica definitiva do prédio cultural e artístico. Cacarecos acumulados em 25 anos foram retirados com os préstimos de alguns caminhões do Desup, para a abertura de novas salas e espaços no ano de 2001. Neste ano de 2002 estamos abrindo uma nova circulação para a área de camarins e oficinas de teatro.

 

 

 

 

 

 


Projetos da direção da Fundação Cultural Petrópolis estão em andamento para a realização da ventilação definitiva do prédio, com as esperadas janelinhas articuladas padronizadas. Para o verão de 2003 estão previstas a instalação de ar-condicionado na Sala-Teatro e a criação de um espaço artístico com quiosque-bar e toldo metálico na área do Terraço. A instalação do elevador para o terceiro andar, já muitas vezes requisitado pelo público, haverá de completar a reinstalação do prédio como casa de arte e cultura para todas as idades e condições. Acreditamos que isto poderá ser realizado sem maiores dificuldades, apesar de oneroso, pela atual administração municipal até 2004.

Agradecemos ao governo municipal, na figura do jovem Sr. Prefeito Rubens França Bomtempo, pela oportunidade de dar uma pequena contribuição ao processo de formação da cultura em nossa pitoresca cidade oitocentista. (Que muitos acreditam ser apenas "imperial", mas que tem também uma diversificada e dispersa cultura popular e de classe-média.) Por ter sua formação toda ligada a esta cidade, o Prefeito saberá encontrar os caminhos para que Petrópolis, com seu acervo e cultura original, seja conhecida nacional e internacionalmente.

Agradecemos ao Presidente e aos funcionários da Fundação Cultural pelo apoio na mesma oportunidade.

É nossa intenção que o Centro de Cultura, ele mesmo um prédio diversificado e disperso, venha a se tornar um ponto de encontro da classe artística no centro da cidade. Um abrigo também para aqueles que gostam da sociabilidade no "centro da cidade", conforme a arcaica tradição das sociedades urbanas.

Foi com este espírito que chamamos de Mostra da Cidade, a mostra de teatro que será realizada no Centro de Cultura de 03 a 11 de agosto, com a apresentação de oito montagens teatrais escolhidas e uma convidada. Esta Mostra tem um alcance não muito abrangente em função de se reagrupar os grupos teatrais que trabalham e se apresentam no Centro de Cultura, enquanto se aguarda a reabertura do Teatro Municipal para a realização de festivais de teatro regionais.

Para os artistas que se sentem em casa no Centro de Cultura, isto é, para aqueles que estão se tornando a classe artística "da Cidade", a Comissão organizadora da Mostra abriu um horário diário ... para a troca de informações e propostas.

Os Seminários de Marxismo, que realizamos ao final do ano passado, estão se tornando uma brochura universitária, que será ofertada ao público interessado, no sábado, 08 de junho, às 10:30 da manhã, quando será feito o lançamento desta publicação dos textos das palestras. Alguns dos palestrantes, incluindo o prof. Mercio Gomes, e o prof. Sergio Sampaio, já confirmaram presença.

Sobre os Seminários de Marxismo vale ainda uma palavra: Muita gente, seguindo um modismo na imprensa, interpretou o enfoque do tema "Marxismo", como um interesse pela revolução e pelo modelo soviético, ou chinês, quando nossa intenção é abordar o pensamento social crítico do capitalismo no século dezenove.

Convidamos ainda os amantes da música nordestina, do forró e da música "de raiz" para a apresentação especial para a imprensa e aficcionados do grupo musical Nó Cego, primeiro na preferência do público em Nova Friburgo (Sala-Teatro, Junho 05, 20:00 hs).

C.M.Barroso – Centro de Cultura Raul de Leoni

 

07-Feudal Imperial Financeiro

Estudos sobre a Forma Imperial
Do Capitalismo Financeiro no séc. XX



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


O livreto distribuido em 2012 com o título de AS TRÊS ESTRUTURAS - Estudos para uma Virtual Politik - tem por finalidade ser um manual de análise política para agremiações e partidos. A conclusão da análise é que o Capitalismo Financeiro se tornou uma estrutura social que conseguiu obter hegemonia sobre as ordens das nações, dos Estados, da vida militar, da produção burguesa, da vida civil, do trabalho organizado, e assim por diante. Como consequência, somente uma Frente Política que seja capaz de conjugar todas as lutas sociais tem chance diante do Feudalismo Financeiro -- para o estabelecimento de um Estado Socialista, que possa controlar as emissões de papéis, moeda, e valores digitais indiscriminados dos banqueiros internacionais "Londrinos".

Alguns exemplares da 1a. edição [108 páginas] ainda estão disponíveis para aqueles interessados em estudos e reuniões de Formação Política.

A 2a. edição revista [116 pags.] já está disponível, aguardando uma possibilidade editorial. Com um novo sub-título de Estudos sobre a Forma Imperial do Capitalismo Financeiro, ela traz nova apresentação, e o adendo de Eustace Mullins sobre Adolph Hitler [veja aqui na página 17-Xadrez-do-Cabal].


Resumo

1) O Poder Militar: Finitudes implicadas na guerra, na exclusão, na inclusão, e no comando; a origem das nações; relações entre clãs e tribos. Nação, nacionalismo; imperialidade, imperialismo. A primeira estrutura como o inconsciente político: fazer morrer e fazer nascer; genética guerreira e genética amorosa.

2) A Formação do Estado: o Estado de uma Nação como estrutura social ao longo do tempo.

3) A Finitude Econômica: A política como função das formas sociais de produção; significado da interpretação marxista até nossos dias.

4) O Cenário Empírico descreve a formação de uma classe financeira dentro do capitalismo, assumindo uma característica de classe feudal-despótica, e que ascende a partir da forma burguesa em função de sofisticados meios financeiros, técnicos, de inteligência, militares, etc.

 

Prezado Leitor: Nestas semanas finais de 2024 em que a República Brasileira está sendo esperançosamente restaurada... Depois de vilipendiada por 8 anos pelas gangues de Moro, Temer & Bozo... Estamos transferindo para este Blogue Washington 11 artigos jornalísticos petropolitanos [mais algumas matérias posteriores] escritos entre 2001 e 2008, que estavam alojados em
virtualpolitik.bravehost.com/ =
Algumas páginas deste Blogue Washington [até a Página-31], com os originais ianques que contavam a tenebrosa saga do "Nine-Eleven" [Von Buelow, Grand-Pre, Joe Vialls - Vide Página-01] estarão sendo substituídas, para receber os artigos mencionados.
O sítio no endereço Bravehost, que incluía ainda Significado da Política Virtual, deverá ser descontinuado.

 

O Significado da Política Virtual

O termo VIRTUAL POLITIK tem uma significação original bem diferente daquela que foi adotada a partir dos anos 80. No período do Chanceler Kissinger (que havia iniciado carreira como secretário particular de N. Rockefeller, e era a figura decisiva no gov. Nixon), a mídia anunciava a nova Real Politik do Chanceler, o que seria o caráter franco e rudimentar, com fotografias sorridentes, do novo pragmatismo na relação Ocidente vs. Russia e China.

Talvez tenha sido na Alemanha que a expressão Virtual Politk tenha surgido, para designar o oposto disso: a visão universalista e utópica; o humanismo das esperanças e projetos de civilização; o planejamento da produção e fim da guerra econômica.

Nos anos 90, a idéia da Política Virtual ficou retida no sentido de uma “filosofia do Ser” e da resposta artística, individual, comportamental, por diferença a uma filosofia da práxis e da história. Os sentidos dos projetos históricos, de significação antropológica, ou universal, foram substituídos por uma filosofia de “imanência”, de puro movimento e flutuação, segundo uma ética de criação repetida de “estados de presente ideal” (inspirada na filosofia spinozista).

Foi nesse contexto que o “virtualismo” passou a significar a virtude do indivíduo físico isolado, porém navegando na internet, vivendo o mundo à sua maneira e escolha, sem que seja necessário mais sair de seu reduto...

E foi num seminário com o título de Virtual Politik, porém com esta significação romântica e spinozista, que esta temática foi pela primeira vez apresentada... Entretanto, a reação selvagem e histérica de um público que se queria “romântico” e “libertário”, diante do problema das políticas secretas imperialistas... nos fez pensar que tudo estava perdido, quando afinal o puro instinto de fuga anti-realista passava a ser dado como virtuosismo. [**]


É necessário, portanto, se reassumir este termo da Virtualidade, para designar efetivamente aquilo que é universal, que é totalizante, que é abrangente e opera por sínteses... Todos os sonhos, todas as hipóteses, e todas experiências e projetos: a Virtualidade designa um Super-Real, uma super-faturação das realidades: efetivadas; das prováveis e possíveis; e ainda das imaginárias...

Finalmente, é nossa intenção explícita que este termo possa ocupar sua significação ali onde já alguns autores identificaram uma Super-Dialética, ou mesmo Hiper-Dialética [*], para designar o ofício filosófico de Marx e Engels concebido numa forma acelerada, de múltiplos fatores, de modo que efetuações cada vez mais complexas de oposições e sínteses se operam.

A concepção desta nova virtualidade política como “super-dialética” resume a síntese do marxismo do séc XIX, feita por muitos autores, com o marxismo estruturalista do séc. XX, no qual as estruturas sociais aparecem como conjuntos totalizadores.

Na história, as estruturas antropológicas seriam o equivalente a conjuntos totalizadores, funcionando como “matrizes algébricas”: matrizes que descrevem o surgimento do mitológico, das significações e dos valores; das condições de ação política, cívica, social, jurídica, e assim por diante.

C. M. Barroso

[*] Conforme a tese do prof. Sampaio, do IFCS-UFRJ, apresentada no Seminário de Marxismo, no C. de Cultura, em novembro de 2001.

[**] O Seminário com o sugestivo título de "virtual politik" foi no planetário da gávea em 1996. A rigor, não se poderia saber mesmo, e creio que ninguém desejaria saber, qual a verdadeira origem do termo... O bom humor da crítica culturalista marxista alemã nos permite "roubar de volta" o termo das mãos dos românticos pós-existencialistas franceses...
No Seminário de 1996, o jovem doutorando hipster cabeludo da mesa de apresentação simplesmente me roubou o microfone das mãos logo que comecei a tentar explicar a importância de se compreender o sistema internacional secreto, como tendo uma política muito superior à do Estado norte-americano e seus interesses, e ainda como a política internacional imperialista dos banqueiros é muito superior a "interesses econômicos"... Foram os liberais norte-americanos que denunciaram o "kabal" internacional dos banqueiros, como havendo invadido o Estado ianque (através da CIA, do Pentágono, etc), da mesma forma como todos os outros países do mundo ocidental.
Com o advento do golpismo Bush em 2001, fazendo a síntese suprema da máquina despótica financeira com as máquinas do pentágono-cia, a advertência se mostrou mais do que necessária em 1996: o sociólogo doutorâncio libertário, com pouca higiene e cortesia, me acusou de estar com um mau-édipo, e a platéia começou a uivar pateticamente...

Esta era a segunda vez em que o Representante-da-Mesa do Projeto Libertário me roubava o microfone logo no início da palestra. No seminário de 1994 no Parque Lage, o doutor Cosmólogo da Cabeleira de Berenice me arrancava o aparelho das mãos...

sanpedritoenlasierra/a-historia-das-cronicas


A Necessária Oposição
Diante do Fascismo Generalizado

Ciro Moroni Barroso*
Publicado na revista UERJ
www.polemica.uerj.br
Dezembro 2003

* Jornalista, autor de cerca 400 artigos de opinião na imprensa em Petrópolis, RJ

Enquanto Gore Vidal e praticamente todas as vozes de esquerda no Brasil e países latinos europeus continuam a atacar o avanço imperial do governo Bush-Cheney em termos tradicionalmente leninistas e hegelianos, isto é, de que é “tentativa de garantir as reservas de petróleo de suas próprias corporações”, mas que, apesar disso, “o consumidor norte-americano poderá se beneficiar de preços melhores para seu combustível”; em termos de que “esta é a aventura final da expansão capitalista”, ou de que “esta é a resposta desesperada do capitalismo internacional diante do crescimento das forças democráticas” – no mundo anglo-saxão, e nos Estados Unidos, a oposição ao fascismo generalizado fraudulentamente instaurado na Casa Branca parece ser mais penetrante, denunciando um golpismo que, em última instância, haveria de destruir as fundações da pátria norte-americana e da própria economia de mercado.

Se é verdade serem necessárias e sinceras as críticas das esquerdas latinas (esquerdas que, acredito, devem continuar a ser definidas como “a crítica do capitalismo”), é, apesar de tudo, irônico que a vanguarda da luta anti-imperialista esteja neste momento sendo protagonizada por cidadãos que se baseiam em valores liberais e protestantes, e que fazem a defesa dos direitos civis e constitucionais em termos desses valores, e não necessariamente nos termos da crítica ao capitalismo. Neste sentido estes cidadãos estão percebendo que as sociedades de seus países (EUA, Inglaterra, Alemanha) estão sendo ameaçadas de desconstrução na mesma medida em que estão as sociedades no Terceiro Mundo, países árabes, Vietnã ou América Latina...

O fato é que, se é pouco numerosa a oposição ativa ao fascismo governamental nos EUA (talvez 10% da sociedade), diante de uma maioria facilmente manipulada pelos meios de comunicação “amestrados”, esta oposição é surpreendentemente virulenta, sagaz e eficiente, nos níveis em que se apresenta. Principalmente no que diz respeito ao jornalismo “investigativo”, independente e auto-sustentado.

O radialista Jeff Rense é um exemplo notável. Seu site na web, www.rense.com, com mais de 7 milhões de consultas mensais, é uma expansão de suas atividades de radialista de oposição. Mais de 300 páginas de documentos são diariamente atualizados, provenientes do noticiário político mundial, dos sites de oposição nos EUA, de e-mails de cidadãos críticos e analistas, e ainda incluindo notícias cotidianas sobre temas gerais, saúde, consumo, acidentes, clima, venda de livros, etc. Através do Rense ficamos sabendo, nos dias que seguiram aos atentados de 11 Set/2001, que incontáveis detalhes oficiais estavam mal contados, e que toda a cena sobre os “sequestradores árabes” era inconsistente, à maneira da montagem feita com o Lee Oswald de Nov/1963. Num canto do site (signo 911), várias entradas dão para as dezenas de comentários sobre o onze-de-setembro: ver entrevista do ex-ministro Von Buelow, ver carta-aberta da agente do FBI Coleen Rowley, etc. Através do Rense, vemos os incômodos detalhes sobre a queda do avião do Senador Paul Wellstone e família, às vésperas da eleição de Nov/2002, sendo Wellstone líder da oposição democrata, prestes a garantir mais uma cadeira, e com isso a maioria, para seu partido no Senado, notícia que ocupou dois minutos em nosso noticiário e sumiu.

No Rense recebeu destaque o artigo do ex-ministro Michael Meacher publicado no Guardian londrino de 06 Set/2003. Meacher, Membro do Parlamento (Labour) e Ministro do Meio Ambiente por seis anos, renunciara em Junho, na esteira do escândalo Kelly. Ele disse que o Vice Richard Cheney (Halliburton, Carlyle, ex-Sec.Defesa) e membros do governo estão diretamente implicados nos atentados de 11 Set. Não sei se esse artigo foi mencionado na imprensa brasileira desde então. Na Inglaterra, além de The Guardian, The Independent e The Observer mantêm uma linha de oposição e independência diante da maré de pseudo-conservadorismo (e pseudo-labourismo de Blair). Nos EUA apenas o New York Times, atualmente, é tido como jornalismo independente, sendo todos os outros grandes jornais e cadeias apontados como parte dos monopólios controladores da mídia.
Ver:
www.gregpalast.com
www.guardian.co.uk

Apesar disso, a edição “personalidade do ano” do natal de 2002 da revista Time, de propriedade de Henry Luce (tradicional aliado dos Rockeffeler e do Council on Foreign Relations, vide), trazia a nossa agente Coleen Rowley do FBI que denunciara alta corrupção na cúpula do FBI (Diretor Robert Mueller) nas investigações sobre os atentados. Há fortes indicações, no momento, de um split nas elites internacionalistas opondo, de um lado, gente que ainda acredita no “capitalismo”, e do outro lado a seita dos Bush-Cheney e dos banqueiros londrinos do séc. dezenove, que acreditam numa ordem internacional monárquica fascista, baseada em sociedades secretas (Skull&Bones, sociedade da Universidade Yale, vide).

Michael Ruppert e Sherman Skolnick, como velhos e renitentes jornalistas independentes críticos da Nova Ordem Mundial de George Bush Sr., da CIA, do tráfico de cocaína da CIA, da alta corrupção no judiciário dos EUA, e do golpismo generalizado, dispensariam maiores apresentações aqui.
Ver ainda:
www.madcowprod.com
www.rumormillnews.com

A lição é: trata-se de um imperialismo no interior de uma desesperada expansão das fronteiras econônicas do capitalismo, sim; porém este “imperialismo” é de uma elite internacional altamente concentracionária e golpista, que destrói o mercado capitalista, em função de um modo de produção de hegemonia financeira que tem muito mais a ver com o feudalismo monárquico absolutista do que com alguma espécie de “economia de mercado” ou de interesses de expansão econômica de corporações. Esse “imperialismo” utiliza-se fraudulentamente de um discurso patriótico, conservador, de nacionalismo econômico, para manter os EUA em guerra – ou seja, para eles é até bom que sejam vistos assim... Enquanto isso, o resultado dessa política golpista, caso fosse permitido seu sucesso, nos levaria a uma espécie de IV Reich: ditadura interna nos EUA, fim das garantias constitucionais, desvalorização econômica-financeira do país, controle da sociedade por meio da mídia e de sofisticados meios eletrônicos; e monarquia absolutista a nível internacional, de cunho financeiro – o capitalismo, fruto da revolução burguesa, reduzido a um aparelho da política imperial.