Monday, November 1, 2010

22-A Política 2001

















Presidente Andrew Jackson, 1829-1837, herói da burguesia republicana ianque. Por estar prevenido, sobreviveu a um atentado feito sob os auspícios dos banqueiros londrinos em 1835, que tentavam instalar um Banco Central de Emissões nos EUA...
Jackson havia retirado reservas federais, que estavam no então Banco Central, e depositado em Bancos Estaduais. O Banco Central já naquela época estava sob influência dos banqueiros londrinos, porém esta data é anterior em 60 anos ao período em que a hegemonia financista é descrita em abundância nos documentos aqui apresentados -- em suas audaciosas estratégias internacionais: vide The Planned Destruction of America, Página 02-Money Control.

 

A Política

Tribuna de Petrópolis

19 de Abril de 2001

Se fóssemos sondar a opinião popular sobre a “política’ encontraríamos algumas noções sobre “mandar”, “poder de comando”, etc, vestígios do período medieval no Ocidente, onde os monarcas encarnavam em suas pessoas o poder de comando da sociedade, sendo os Estados das nações apenas a conseqüência legítima disto. Nas origens helenísticas de nossa sociedade, o poder dos aristocratas e dos monarcas derivava do controle e fidelidade da classe guerreira. No período medieval um confuso sincretismo entre poder religioso, poder aristocrático e rituais administrativos de estados pseudo-legitimados deram forma aos estados das nações.

Em nossa época, a descrição sobre a legitimidade e a constituição do poder dos estados e dos governos não é menos confusa. O que será o “poder”? Para muitos, tacitamente, o poder é o estado e os governos que neles se instalam. Mas é evidente que a ocupação dos cargos nominais nessas instâncias depende de rituais sociológicos, entre eles o reconhecimento dos cidadãos, os rituais de instituições eleitorais e partidárias, os golpes de estado (quando revertemos ao período pré-histórico de legitimação como conquista), e outros estranhos rituais que incluem o poder econômico, a presença na imprensa, as afetividades psicológicas, rituais menos legitimamente legítimos como o suborno, o logro, promessas e, atualmente, o marketing. É evidente, também, que há várias instâncias na sociedade que são “poder”, sem serem estado ou governo.

A idéia de “poder político” é, na verdade, redundante, pois há muitas formas de Poder em Sociedade, e todas elas são A Política...

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Karl Marx, o primeiro grande estruturalista no Ocidente, procura demonstrar que as forças políticas se exercem dentro de um sistema estruturado, o qual responde a um outro sistema que é de ordem econômica, o qual corresponde ao modo de produção, igualmente organizado como sistema, o que é um resultado criativo da relação Cultura / Natureza. Por “estrutura” deve-se entender, não apenas a existência de um sistema fisicamente interligado, mas principalmente o fato de que o significado, o sentido das ações isoladas dos elementos, deve ser obtido a partir das relações sistêmicas entre os elementos, não a partir de sua lógica interna.

Marx vê a mudança social, o sentido da política, como mudança no modo de produção, isto é, mudança do papel que as classes sociais desempenham na estrutura econômica. Nesse sentido “fazer política” é organizar as classes trabalhadoras para que elas possam deter as decisões e os meios de produção, capital, etc, tornando o processo econômico mais racional e humanizado, sendo o Estado e o governo, neste contexto, meros instrumentos.

A interpretação e a prática marxista em nossa história recente, embora baseadas numa visão materialista-ateísta da realidade, demonstraram uma imprevista possibilidade de convergência com a pragmática humanista-cristã, tal como expresso p.ex., na assim chamada Teologia da Libertação.

Na visão cristã, a solidariedade e a “igualdade” humana, são fins e métodos que valem por si mesmos. A prática cristã amorosa desencadearia espontaneamente a sociedade justa e democrática, inclusive do ponto de vista econômico.

Para a visão liberal do século dezoito, o livre mercado, a livre iniciativa empresarial, desencadearia espontaneamente uma sociedade justa e abundante, devido a um processo seletivo empírico de busca de riquezas e lucro, sendo o estado republicano uma expressão legitimadora, mediadora deste processo.

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Numa sociedade violentamente injusta, espoliada e miserável como são as sociedades terceiro-mundistas emergentes do colonialismo, qualquer visão cristã de caridade e assistência social é necessariamente bem vinda. Por outro lado, nexte mesmo contexto, a assistência social é intrinsecamente poderosa como fator eleitoral clientelista. Inclusive os políticos conservadores, isto é, que conservam o modelo de sociedade capitalista-burguesa, fazem questão do assistencialismo, como maneira de neutralizar a demanda de mudança e justiça social, conservando assim a estrutura social burguesa e mantendo seus aparatos políticos.

O marxismo, enquanto crítica e tentativa de modificação da sociedade burguesa capitalista (neste sentido se define a “esquerda”) nesse contexto, se torna irreconciliável com a visão de assistência social. A não ser que a prática da assistência social esteja ligada a um certo sentido de “conscientização”, projeto último da Teologia da Libertação. (A tentativa de se definir “esquerda” em termos de “igualitarismo”, de qualquer forma, faz desaparecer esta importante distinção: a intensificação das desigualdades pode também ocasionar a mudança social.)

Do ponto de vista eleitoral a questão da assistência social se torna imediatamente visível, “democrática”, ao passo que a questão da mudança na estrutura (Revolução) se torna anti-eleitoral, contraproducente, de difícil visibilidade numa sociedade e num estado republicano burguês: Para fazer democracia a curto prazo e manter seus “poderes”, os políticos têm que afastar a democracia a longo prazo, não contestando a República como instituição. E a República existe para manter constitucionalmente a “iniciativa privada”, a legitimidade do capital acumulado, e validar o meio financeiro como fator de dinâmica social.

Em nossa atual sociedade, além do mais, formulou-se o neo-liberalismo” como eufemismo ideológico: O neo-liberalismo não existe na vida real, pois, ao contrário da previsão liberal do século dezoito de “livre-mercado”, temos de fato um mercado inteiramente prisioneiro de oligopólios, de poderosas casas financeiras, e de jogos de política imperial exercidos pelas nações e empresas multinacionais capitalistas.

Ou seja, todos os poderes podem se exercer aqui, desde que não sejam o poder de modificar a estrutura.

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A política enquanto “mando” pode se servir facilmente dos Estados constituídos, mas, conforme ensina o Marxismo, este mando estatal pode estar sendo comandado por fatores estruturais que são exteriores ao sistema político.

A política enquanto “poder de mudança”, por sua vez, pode estar nas formas de Estado, de governo, nas associações de bairro, nos partidos, nos sindicatos, nas universidades, nos meios de comunicação, na produção ideológica, e assim por diante.

Entretanto, é impossível transmutar a estrutura social burguesa, através de qualquer uma destas instâncias, mantendo-se as práticas burguesas, a moral burguesa, o dinheiro como valor, tudo aquilo que na Significação, de uma forma ou de outra, expressa a série burguesa: Salvação individual, lucro, acumulação (Weber) / Competição, mais lucro, culto do indivíduo / ou, a nível nacional: “crescimento econômico”, formação de mercado, “criação” de empregos, etc.

A Antropologia, a partir da Lingüística, observou que, quando falamos, não somos nós que falamos, é todo o sistema lingüístico que fala em nós; quando agimos, é a estrutura social que age em nós e por nós, nossa consciência individual acredita ser responsável pelos atos, mas ela é também um efeito. Somos portadores da Estrutura, ela significa o que fazemos.

Podemos assim considerar uma definição da Política, em termos de que é a expressão do Poder em Sociedade, porém somente quando isto ocorre no nível e na forma da Estrutura, isto é, não em termos do poder dos elementos sociais, segundo o que cada um deles supõe ser seu interesse de poder.

 

Espectros de Marx

Tribuna de Petrópolis

18 de Outubro de 2001

Jacques Derrida comenta de forma irônica as tentativas de driblar e ocultar os Espectros de Marx, que insistem em retornar e reaparecer ao final do séc. XX. Como o espectro do Rei Hamlet shakespeariano, que insiste em reaparecer aos seus soldados e a seu filho depois de sacrificado, enquanto seu enterro e o novo casamento da Rainha com o usurpador são feitos às pressas, as tentativas de enterrar o Karl Marx físico, individual, o autor simplesmente, apenas denotam o pavor diante do retorno infalível da teses marxistas e daqueles espectros de seu pensamento que pertencem, não a ele, o autor, mas à história social do Ocidente.

Os Espectros de Marx são aquelas modalidades de seu pensamento que pertencem ao tecido social no qual o pensador buscou se inserir analiticamente em seu tempo. Exatamente pela força de sua inserção, estes espectros estão se atualizando novamente em nosso tempo, através do tecido social. É o mesmo que dizer que, mesmo que alguns dos pensadores marxistas não existissem, estas idéias estariam presentes, porque pertencem de fato ao sistema e ao sentido em que está organizada a civilização do Ocidente desde a Revolução Francesa.

As definições de Divisão Social do Trabalho e Modo de Produção utilizadas por Marx são tão úteis e operacionais em 1850 quanto são em 2001. Desconhecer Marx como cientista social é o mesmo que desconhecer cada uma das diversas etapas em que o Ocidente desenvolveu seu Pensamento e seu auto-reconhecimento. Marx é um dos pensadores enraizados na cultura do Esclarecimento ou Aufklärung setecentista, cuja ambição maior era compreender, interpretar, analisar, o mundo, ou a sociedade, com alguma autonomia filosófica livre dos dogmas conceituais históricos.

A idéia de Ciência Social neste caso, não é uma idéia de verdade última ou conhecimento final sobre o que está acontecendo na Sociedade, mas de interpretação e conhecimento o mais objetivos possíveis, com o “despossuimento” da pessoa e dos dogmas individuais diante de um cenário que se pretende compreender. O caráter de construtivismo e de estruturalismo em Marx é o mais importante: a possiblidade de uma interpretação que se renova e que pode sempre abranger mais, formulando-se, assim, uma tradição de conhecimento. Marx fazia a análise e a síntese constantes de dezenas de pensadores socialistas e anarquistas de seu tempo.
















Carlos Marques nasceu na Renânia, o mais Cosmopolita distrito alemão, em meados da década de 30. Nos anos 50 fez estudos de Antropologia e Ciências Sociais em Frankfurt, onde se tornou catedrático, e vive até hoje, como um ESPECTRO de KARL MARX...
Recentemente declarou o ESPECTRO: "Pretendo viver mais que o velho marechal Hindenburg, para ver de pé a derrocada da Regime Financeiro Mundial, quando finalmente a Tese Socialista se tornará irrevogável".

Segundo ele, a privatização infinita da moeda levou ao anseio na direção oposta, que é a plena estatização da emissão monetária:
-- "A estatização da moeda é a conclusão lógica e historicamente necessária frente aos destroços do capitalismo financeiro, e o primeiro passo efetivo para o Estado Socialista".

 

Com seu papel contemporâneo de ditar os rumos da Cultura, a imprensa tem decretado ultimamente o “fim do Marxismo”, ou que “Marx não deu certo” como se o grande autor fosse um pensador voluntarioso (de acordo, exatamente, com o caráter subjetivista e voluntarioso como o pensamento social pequeno-burguês vê seus autores na realidade). Marx nos dá a lição, como todos os outros pensadores da tradição ocidental, de enraizamento na experiência social, empirismo e análise conjugadas. Num segundo momento de seu percurso Marx se torna também ativista, conforme o famoso lema “Os filósofos até agora interpretaram o mundo, é preciso doravante transformá-lo”. E isto é consequência da segurança obtida com as interpretações históricas feitas por ele e seus contemporâneos.

Marx, é claro, não deu receitas do “bem governar”, como Maquiavelli... A segunda grande preguiça mental do comentário jornalístico habitual é identificar o Marxismo com o regime soviético. Isto, é claro, em parte induzido pela necessidade de se identificar ideologicamente com um dos “dois lados” da confrontação Ocidente–URSS. As agências de notícias internacionais pró-ocidente são altamente monopolizadoras e concentradoras da informação, “matando” as versões diferenciais. As condições da política e da sociedade na América Latina, definitivamente, nada têm a ver com a “Queda do Muro de Berlim”. Inclusive, nos anos 60, os golpes de estado pró-EUA vieram exatamente num momento em que algumas nações da América Latina estavam tentando sair do dualismo da Guerra Fria.

Marx faz a análise da função das classes trabalhadoras dentro do Capitalismo, e desenvolve uma tese sobre seu possível desempenho na mudança da sociedade burguesa. Isto é a análise do desenho dinâmico de uma sociedade. De forma alguma,  uma receita de como se tomar o poder do Estado, e muito menos de como governar. O episódio da Revolução bolchevique, e toda a política leninista, é apenas uma versão possível dos fatos, assim como a política de outras lideranças revolucionárias, socialistas, comunistas, etc, em várias nações ao longo do tempo. É possível se inspirar nas análises e nas teses marxistas, assim como pode-se inspirar nas diversas leituras históricas, mas não é possível se responsabilizar uma leitura pelas condições políticas de uma sociedade. Se Marx houvesse atravessado vivo o séc. XX, provavelmente teria mudado de opinião sobre nossos Estados constituídos, assim como nós outros mudamos de opinião.

Já uma nova preguiça mental é dizer que “a Revolução Francesa deu certo”, ou que “O Capitalismo” ou os “Estados Unidos” deram certo, ou que a “URSS não deu certo”... Fica claro que depois da Revolução Francesa veio Napoleão, e que a Revolução de 1789 foi refeita e desfeita várias vezes, sendo portanto um processo histórico: E isso, exatamente, como os processos históricos analisados por Marx. Uma nova República, ou um regime socialista, não se instauram só pelo ato formal de instauração ou revolução. São atos que resultam de uma maturação de possibilidades ao longo de períodos.

Quanto aos Estados Unidos, ou o Capitalismo, dizer que “deram certo”, é muito difícil, no momento em que estas instâncias ameaçam a existência física do planeta (a equação: mais-valia igual a crescimento do PIB igual a Efeito Estufa). E a União Soviética, que teve seu fechado regime político desconstruído, resultou de um processo estatal concentrado, que levou uma nação camponesa à liderança no campo científico, tecnológico, industrial e militar: se é que isto significa “dar certo”!


1 comment:

Bilder said...

Caro amigo,o seu post é excelente e revelador sobre o que está em causa,a liberdade dos povos,pois já Lincoln denunciava esse monopolio financeiro e por isso foi decerto assassinado,para alem de JFK segundo muitos analistas.
A coligação neoimperialista representada na Europa pelo Bilderberg e seus agentes nos governos está indo com sucesso para seu objectivo final de governo mundial,e todo esse caos que massacra os povos só pode levar a que os povos acabem por desistir de toda a revolta e alternativa se entregando nas mãos dos ditos iluminados que manipulam tudo do alto de sua piramide.No entanto o povo está na base sustentando a mesma piramide,e eu acredito que essa base pode deixar de manter a piramide enquanto houver pessoas que resistem!
Força caro amigo,coloco seu link deste post nos meus blogs pois tem informação excelente.