Do Cívico, do Social, da Sociabilidade
Diário de Petrópolis
11 de julho de 2008
O período de quase democratização republicana que se seguiu na sociedade brasileira a partir dos anos 80 deu nascimento a esta política que a fala comum passou a denominar de “fisiologismo”, um termo que não deixa de sugerir um quê de inocência e desprendimento... É injusto se pensar que os políticos são “iguais sempre”. O período de desenvolto fisiologismo dos anos 80 (hegemonia do PMDB, PFL, PTB, PL) não teve precedentes no país em termos das contabilidades partidárias não contabilizadas, organização solidária de colegas para a ocupação das máquinas governamentais através do processo eleitoral, e uso de propaganda sofisticada e truques de marketing para a obtenção da graça eleitoral.
É desse período a imagem do político “oficial”, que tem as vitrines externas cheias de brilho artificial, mas nos fundos de copa-e-cozinha o que ocorre é a “baixaria”. Por comparação, os políticos do coronelismo dos anos 20, e os políticos populares-populistas dos anos 55-64, se expunham mais à sociedade com seus rostos verdadeiros.
Foi nessa sequência que nossos partidos deixaram de representar as correntes da sociedade brasileira, e passaram a ser meramente, mas de forma retumbante, máquinas eleitorais. Aos indefesos eleitores passou-se a induzir o raciocínio de que “tudo que eles querem é o poder”, e os “políticos são todos iguais porisso”... Claro, isto como consequência dos meios de comunicação martelarem a mente dos cidadãos com a idéia de que estar no governo é “estar no poder”. Aquilo que mais se odeia, e mais se acusa, é aquilo que mais se quer, “o poder”, o que por outra via, justifica tudo.
Pergunta-se: quem está no “poder” no Palácio do Planalto? Lula? A burguesia? A Petrobrás? A classe trabalhadora? (Os “bolcheviques”, como quer o Jabour?) Ou os Bancos? O capitalismo especulativo internacional??
Entretanto, caro leitor, este período de “desprendimento” dos políticos dos anos 80 já é coisa do passado. Temos agora o político tipo “máfia”, sem aspas. A nova geração dos politicos brasileiros tem horizontes ilimitados de arroubo e audácia para a coleta de fundos “não contabilizados”, que se tornam finalidades muito mais que “utilitárias” das máquinas fisiológicas, se tornando dourados e refulgentes símbolos de “poder”...
Seus seguidores não são apenas uma claque de correligionários ansiosos por nomeações. Agora são guardas de “honra” armados e do ramo mais treinado nas instituições policiais, prontos para neutralizar ou intimidar qualquer oponente, que seja meramente verbal. Seus colegas não são apenas partidários somando doações benevolentes, mas “laranjas” que passam a colaborar na administração de redes de empresas e fundos fabulosos que se perdem de vista. O suborno, e o grampeamento de telefones de colegas e adversários com mesas de escuta, se tornam práticas comuns. A Casa de Governo, enfim, é uma reunião doméstica comandada pelo chefe, com todos aqueles que são seus seguidores fiéis, “amigos leais do chefe”...
Os chefões eleitorais-partidários se vêem como heróis de confrarias secretas auto-celebradas pertencentes a filmes hollywoodianos... Desenvolvem todos os “desempenhos” do ator cara-limpa, que discorre sobre coisas simples e comuns, que diz que cuida do povo, que diz que “está tudo bem”, quando toda a cena moral se desmorona em volta. Tenha-se como referência o eleitoralmente vitorioso ex-governador dos campos goytacazes, que permanecia na rádio evangélica declarando o quanto era temente ao “Senhor”, na mesma sequência em que comandava esquemas escabrosos com o seu Chefe de Polícia Civil – segundo o que foi apurado pelo Ministério Público e Polícia Federal.
Este novo regime yuppie-cruel está instalado em todo Brasil, a níveis federais, estaduais, municipais. Em Petrópolis, as lesões ao estado civil e a agressão à sociabilidade envolvendo a classe política são neste ano eleitoral de responsabilidade máxima do atual ocupante do Palácio Fadel. Trata-se neste ano não apenas de novas decisões eleitorais, mas de uma necessária cruzada para se restaurar a ética na política municipal.
Lambam$sa na Convenção do PDT Municipal em 2008
* Os sindicalistas agiam como célula com tipo de orientação marxista-leninista. Pode ser que fossem aliados antigos dos brizolistas do Rio, o que não ficou claro; e ainda qual o acordo que teriam com o Lôbo Lupi.
** O Alcaide tinha dívidas e negócios inenarráveis com seu ex-segurança. A partir daqui podemos poupar o leitor de maiores detalhes, exceto para concluir que nem um pingo dourado desses fatos *** saiu na “mídia” local - com a exceção da valorosa inclusão deste artigo pelo Diário de Petrópolis.
*** Incluindo-se o aparato mafioso de Don Pinguim Arlequim Dourado na Convenção, no Bogari, em junho de 2008, com seus guardas-malas e aparelho de escuta telefônica dos colegas (aparelho apontado por um de seus asseclas, e delicadamente mencionado pelo Sargento Gonçalo).
**** Brizola ergueu a mão do candidato a Prefeito na Convenção do PDT em 2000 no clube Bogari [ou Palmeira??].
Comentário 2014
Em 2008, o Prefeito Bem-Sucedido estava ao final de seu segundo mandato. Ele e o Pinguim Dourado ofereceram gorda propina ao Lôbo Lupi para que este ordenasse a intervenção no Diretório local do PDT, para afastar os antigos brizolistas. E eles tudo fizeram atropeladamente, tomando a sede do PDT com capangas e criados, nos acusando de "inoperância", fazendo uso da Renata-16 como “Presidenta Interventora” (“olha que meu marido luta karatê, hein, eu estou ligando para ele no meu celular”)...
O Pinguim [Juvenil] Dourado se mantinha na sombra, para ser o candidato a Vice-Presidente na próxima eleição do Diretório. As luvas da intervenção foram de 450 mil, com 50 mil mensais até as eleições.
Aconteceu que alguns rapazes sindicalistas da Petrobrás (aparentemente inspirados pelos brizolistas do Rio) conseguiram se incluir no grupo a ser votado para chapa dos interventores, a ser legitimado nas próximas eleições do Diretório.* Eles não conseguiram “chapa única” na votação, porque os pedetistas, liderados pela nobre figura do ex-presidente brizolista, organizaram uma “chapa de resistência”... No dia da apresentação das chapas, no casarão em cima da antiga pizzaria Don Corleone, o líder dos sindicalistas audaciosamente anunciou sua inclusão em nossa chapa...!
Foi o caos: o “mestre” Ivo (propinado do Arlequim Dourado, que era então o Presidente da Fundação de Cultura) avisou ao abnegado ex-presidente brizolista: “cuidado, nós somos um tipo de comando vermelho...” Vários rapazes nervosos dos dois lados com armas nas cintas. Ao final, para advertir os dissidentes sindicais petroleiros, foi chamado o guarda de segurança de Don Alcaide Corleone Bomtempo, o Sargento Sangonçalo... A ação habitual do Sangonçalo era apontar sua pesada arma ao desafeto, dando-lhe obscena intimação... O que ele acabou fazendo depois, em três oportunidades, durante a campanha eleitoral, contra membros do grupo do próprio Alcaide, agora seu ex-Chefe e adversário: duas vezes no camarote eleitoral por diferenças com os subordinados; e uma dentro do Gabinete da Prefeitura... Por sorte, o titular não estava presente na ocorrência policial...**
Tribuna de Petrópolis
30 de maio de 2008
Os objetivos do golpe de Estado no Brasil não foram alcançados senão quando a política dos partidos se tornou definitivamente um espetáculo promocional festivo, cheio de tédio, individualista, sob confissões de “alegria” e “dedicação” inteiramente decorativas... Ao povo se oferece para a escolha eleitoral postulantes, da mesma forma que jogadores de futebol para a “grande copa”, ou vedetes para o “grande prêmio do cinema”...
O golpe de Estado nos países latino-americanos não deve ser compreendido como resultado de “interesses ianques” – como se Henry Kissinger, a CIA e o Pentágono, Lincoln Gordon, e todos os outros, trabalhassem para fazer prevalecer os interesses da sociedade de seu país, ainda que de forma violenta, lesando porisso os direitos das sociedades dos países do “terceiro mundo”.
Esses atores, assim como os serviços secretos militares a serviço da CIA, o monopólio das telecomunicações capitaneado por Roberto Marinho nos anos 80, o ataque dos Bushes e de Israel ao mundo árabe, e a candidatura Hilary Clinton, são facções muito bem posicionadas para defender os interesses do super-estado financeiro-feudal promovido pelos banqueiros Rothschild ao longo do séc. XIX, e pelos banqueiros Rockefeller a partir de 1919, com suporte de várias outras dinastias financistas. (Leia-se “Clube Bilderberg”, Daniel Estulin, Ed. Planeta, 2005). Este super-estado paralelo domina o Ocidente, e lesa os interesses dos povos ianques, latino-americanos e europeus igualmente (financiando Hitler, p. ex.).
A idéia de que a classe política precisa ser levada ao ridículo, se tornando uma claque de atores deslumbrados, sendo criadas falsas contradições, e jogando-se os atores uns contra os outros através de propaganda e de meios de comunicação monopolizados; o projeto central de corromper as instituições civis e “minimalizar” o Estado; a promoção da cultura vulgar e pornográfica; a promoção da criminalidade e da polícia corrupta; a compra dos governantes – enfim, são os conceitos centrais do famoso manual “Protocolos de Sion”...
Antes que se diga, estes “protocolos” não pertencem, e não defendem, os interesses supostamente de algum "povo judeu" [no sentido de herdeiros do antigo povo hebreu], os quais são também usados como "massa-de-manobra".
Os Protocolos de Sion, concebidos ao longo do séc. XIX pela dinastia Rothschild e pelos “Illuminati” da Bavária, são uma espécie de “chicletes”: quanto mais se tenta provar que seriam “forjados”, mais fica evidente seu macabro fundo de pura realidade!
A imposição do projeto dos “protocolos” se mostra tipicamente no Brasil com o sucesso eleitoral de Fernando Collor em 1989. A resistência à hegemonia do super-estado monárquico-financeiro se deu na América Latina através de algumas lideranças que entenderam a necessidade de se reforçar os Estados nacionais, e “politizar” a classe política: dar a ela um projeto moral e de compromisso, muito além da mera distribuição de benesses e agrados ao “povo”...
O fato específico que denota a hegemonia dos banqueiros é que nenhum governante, Presidente, Governador, Prefeito, tem qualquer eficácia, caso não tenha “muito dinheiro”: verbas oficiais e bastante “caixa-2”... Ao contrário, sendo um político voluptuoso, vazio, sem projetos, mas com “muito dinheiro”, com certeza o sucesso lhe sorrirá, com aplausos, holofotes e homenagens na “mídia” totalitária.
Nos tempos de antanho, quando a política dos partidos funcionava no Brasil, o país teve o que se poderia denominar um projeto de Social-Democracia. Em sua forma mais verdadeira, este conceito diz respeito à união da classe empresarial que acredita no verdadeiro livre-mercado, com a classe média liberal, e com a classe trabalhadora, contra a oligarquia financeira e os monopólios cartelizados internacionais.
Um Estado Nacional Social-Democrata eficaz, entretanto, não pode depender exclusivamente do torneio eleitoral, tão facilmente manipulado. É necessario a educação política, civil, ética, dos votantes. Esta seria a princípio a função dos partidos.
Contudo, vivemos na perfeita contra-mão da História: ao invés de serem os partidos uma expressão da consciência civil da sociedade, e daí formando seus projetos, e seus quadros, que seriam os candidatos do jogo eleitoral, e que, uma vez eleitos, estariam expressando como líderes estes projetos coletivos partidários, - o que temos são lideranças que se utilizam dos votos partidários e eleitorais para alcançar as máquinas de governo, para dar cargos a seus seguidores, os quais se tornam tropa de choque do líder, se tornando os partidos empresas eleitorais-marqueteiras-propinodutas, que trabalham para os projetos individuais dos líderes, para a reconquista dos Executivos a cada novo torneio eleitoral, o que se repete indefinidamente...
Em tempo: para aqueles que apostam no “enterro de uma sigla”, o retorno de Leonel Brizola e a fundação do PDT foi um exemplo de resistência à politica feudal-financeira no Brasil, em 1980.
C.M.Barroso
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