Monday, June 9, 2025

63 - Princípio da Regência - 1
































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1. O Princípio da Regência

Na História da Antiguidade

Na Antiguidade um Princípio de Regência devido a uma ordem natural universal foi sempre dado de modo tácito, ou como pressuposto, junto às concepções éticas e políticas das monarquias, ou Principados:
O modo de regência monárquico não era dado criticamente, por si mesmo, mas apenas conforme os termos valorativos:

1) O Príncipe ama seu povo, ou não; Ele é amado pelo povo / ou não;
2) Comanda bem seus generais e soldados / ou não;
3) Tem sabedoria administrativa, ouve os conselheiros e conhece seus país / ou não;
4) O Príncipe governa segundo a Lei Divina / ou não...

Também na China, Ordem Natural e Ordem Histórica pertencem a um mesmo contínuo de pensamento, conforme as tradições do Taoísmo, e de Confúcio. Estas Tradições trazem noções complementares, ao longo do tempo, de conduta individual, ética civil, e regência de inspiração “celestial”, a partir de 500 aC.

Na continuidade desses valores antropológicos, em Esparta [séc. V aC] um regime comunista semelhante ao da União Soviética foi instalado. O resultado foi uma grande superioridade militar, que derrotou o regime de repúblicas atenienses, que eram oligárquicas. Em Atenas, as repúblicas eram sucedidas por períodos de curtos principados, onde os “tiranos” poderiam significar novos líderes “libertadores do povo”... Ou não – sendo novamente substituí-dos por repúblicas instáveis, etc.
O Senado Romano era um mistura monarquia-república. Os Senadores eram conjuntamente chefes-de-estado aristo-cráticos, porém certos rituais republicanos de eleições eram observados. Com o tempo [c. 150 aC], um Parlamento Popular foi estabelecido.
Quando Julio César comanda a derrota do regime do Senado, e se instala como Príncipe, ele é visto como chefe-libertador, e não como “usurpador” de uma República Senatorial falida. Nesse sentido ele é comparavel ao Lênin da revolução de 1917.
No séc. II dC, cinco reis denominados “Antoninos” foram reconhecidos como Príncipes Esclarecidos em Roma: estáveis, cultos, aceitos pela sociedade nas várias classes.





Dom Afonso Henriques























A Reconquista e a Fundação de Portugal

A Reconquista na Hispânia das terras conquistadas pelos Mouros se inicia com Fernando I, de Leão e Castela, que reinou entre 1037 e 1065, e fez a tomada de Coimbra em 1064. Afonso VI foi seu sucessor (1065-1109), que atingiu a linha do Tejo em 1085, conquistando Toledo, antiga capital dos Visigodos. Os Cristãos conquistam Santarém e Lisboa em 1093, mas perdem essas cidades em seguida, com a chegada dos temíveis guerreiros Almorávidas, convocados pelos Mouros desde o Norte da África. A contra-ofensiva muçulmana faz com que Afonso VI peça ajuda aos cavaleiros cristãos do Sul da França: à Abadia Beneditina de Cluny, e ao Duque de Borgonha, sendo Afonso VI casado com a filha deste duque.
Filhos de nobres da Borgonha, os jovens cavaleiros Raimundo e Henrique vieram à Espanha buscar sua fortuna. Raimundo se casou com uma filha de Afonso VI, e herdou o condado da Galícia. Henrique se casou com outra filha de Afonso, e herdou o condado de Portucale (1096). Sendo falecidos Raimundo e Afonso VI, e com o falecimento de Henrique em 1112, seu filho Afonso Henriques se torna o herdeiro natural do condado de Portucale, sendo ainda uma criança. Sua mãe Teresa assume a regência.
Em 1127, com 18 anos, Afonso Henriques participa da resistência em Guimarães contra as tropas do novo Rei de Castela, Afonso VII, que exigia que sua soberania fosse reconhecida pelos portucalenses. A vitória em Guimarães marca efetivamente a independência do condado em relação a Castela. Em 1128 (19 anos) lidera a rebelião dos nobres locais contra Teresa, que se associara ao clã dos Trava, da Galícia, que pretendiam submeter Portucale ao Condado da Galícia. Esta data, que marca o início de seu Reinado, é a data de nascimento do novo Reino Portucalense.
Afonso Henriques se revela um chefe-guerreiro incessante e memorável: incansável na recuperação dos antigos territórios célticos e visigodos, distribuindo as terras conquistadas entre colonizadores, recebendo apoio e emigrantes de várias frentes da Reconquista Cristã e da França.
Em 1131 ele desloca sua corte para Coimbra, na fronteira em que o Rio Mondego separava as províncias cristãs dos reinos mouros, o que indicava sua intenção de expandir seu antigo condado. Nos anos 30 Afonso Henriques faz incursões em território mouro, fundando o Castelo de Leiria, e vencendo tropas mouras em Julho de 1139 na Batalha de Ourique, que se tornou lendária. O novo príncipe portucalês teria tido uma visão celestial, o que indicaria a visão do Cristo a lhe abençoar as campanhas militares. Esta batalha se tornou a fundação mitológica do Reino de Portugal: Afonso Henriques se auto-intitula Rei dos Portugueses.
Conquista Santarém (Rio Tejo) em 1147, depois de uma tentativa frustrada de tomar Lisboa em 1142, que permanecia um grande centro de poder e cultura islâmica. Afonso Henriques vê na passagem de uma frota que descia da Europa do Norte, para combater os mouros em Jerusalém, uma oportunidade para a conquista de Lisboa. Oferece aos cruzados benefícios na forma de direito de saquear a cidade uma vez derrotada, ou de se fixarem em territórios que ele doaria. O cerco a Lisboa foi doloroso e durou de junho a outubro de 1147, com conflitos entre as hostes cristãs de portucalenses e dos cruzados, pois a estes últimos só interessava o saque. Vencida a grande capital, o Rei dos Portugueses toma iniciativas de povoamento nas terras férteis do Tejo. Cavaleiros flamengos e francos recebem incontáveis doações de propriedade e senhorio, o que continua durante o reinado do seu sucessor Sancho I. Entre outros, o Mosteiro de Alcobaça (1153) teve papel de destaque no povoamento, desenvolvimento agrícola, e produção para o mercado. Alguns monges eram templários, cavaleiros religiosos em combate ao Islã.
Afonso Henriques continua chefiando incursões militares no norte, e no sul, até ser ferido na perna e derrotado na Batalha de Badajoz em 1169, quando chega a ficar preso pelo Rei de Castela. Reina até os 76 anos, tendo seu filho Sancho como sucessor em 1185.


Península Ibérica circa 560 dC


2. O Republicanismo
História Moderna desde final Séc. XVIII

O Republicanismo desde meados do séc. XVIII. Ética e Filosofia dos Iluministas.

2.1. A concepção política dos Iluministas era a de que as monarquias seriam intrinsecamente despóticas, sempre tendo o povo sob “dominação”... O Republicanismo seria a resposta ética natural: O Parlamento e o Executivo sob eleições; os eleitores como cidadãos independentes e esclarecidos. O Executivo com ministros indicados pertencentes aos partidos eleitorais; Judiciário autônomo, imprensa livre, etc.
O peso moral de algumas décadas de pregação republicana no séc. XVIII (na França) resultou na revolução de 1789. Esta revolução, que pretendia instaurar uma república burguesa, termina em retumbante fracasso.
A ascenção de Napoleão sugere um sub-consciente na sociedade, e uma nostalgia popular (de soldados que o seguem), de um Princípio de Regência, na forma monárquica da antiguidade. Napoleão faz acenos à burguesia, tentando às vezes se comportar como burguês... Também seu regime vai se tornando caricato, até ser destronado, mas o princípio monárquico que reinstaura a dinastia Bourbon em 1818, agora é explícito.
Em 1830 a monarquia Bourbon é substituída pelos de Orleãns, que obtém certa estabilidade política, com um regime que tenta manter um “acordo-de-classes”, entre povo, burguesia, aristocracia feudal.
A forma monárquica que equilibra politicamente as três principais classes da sociedade, foi conhecida pela primeira vez, na história da Europa, com o advento da dinastia Aviz em Portugal, a partir de 1385.
O Cesarismo e Napoleanismo seriam como um reinício histórico “do ponto zero”: na medida em que as repúblicas ou principados fracassam, exatamente por não serem capazes de obter o “acordo-de-classes”.

2.2. Na forma dos assim chamados Socialistas Utópicos, a república burguesa apenas precisaria ser reformada por atos de “boa-vontade”, sinceros, democráticos, cristãos, para se atingir a estabilidade social.
Pode-se argumentar que a questão da “igualdade democrática” não é o que estaria em primeiro plano, mas a questão de uma redistribuição, a qual possa permitir no futuro alguma maior “igualdade social” – no sentido de uma equivalência cívica e jurídica.
Esta redistribuição é um ato de regência, ato governamental de um estado-república pleno. Porém, também poderia ser feito por uma “monarquia esclarecida”.

2.3. Nos anos 1860, 70 e 80 Marx, e Engels até os anos 90, entenderam que não seria necessário um “rompimento” da ordem burguesa-republicana, com a “ascenção do proletariado”. Aquilo que se convencionou chamar de Blanquismo... Isso devido ao fracasso das revoluções de 1848, e da derrota em 1871 da resistência em Paris.
Todos os socialistas entendiam que poderiam haver “reformas”, e melhor consciência política dos trabalhadores, em se mantendo os termos republicanos vigentes, parlamento, partido organizado, jornais, etc.
A revolução de 1917, liderada por Lênin, leva a um paradoxo: do ponto de vista da propaganda burguesa ocidental, ele seria um déspota. O Leninismo surgiu como doutrina da “ditadura do proletariado”, que havia sido abandonada desde as revoluções do séc. dezenove.
Porém, para seus seguidores, ele é um tipo cesáreo, ou napoleônico: sua ditadura do proletariado é vista como fato social, a questão é “contra quem”, e a “favor de quem”, seu autoritarismo se impõe.
No período do regime policial, burocrático e militarizado de Stálin, a situação se torna explicitamente cesária: O chefe agora é um General que tem toda a autoridade, porque comanda a defesa da nação contra invasores. A Russia estava sendo atacada, sem ter ameaçado nenhum país.
2.3.1. Ora, mesmo que uma revolução do tipo leninista seja assumida por líderes neste modo cesáreo (Mao na China, Fidel e Khadafi], com tempo, ela deverá ser capaz de trazer uma Regência para a nação, não importando se ao modo monárquico ou republicano.
O Princípio de Regência aqui será ato-de-vontade, direção, conhecimento. Assim como é para os socialistas utópicos o planejamento da produção, das cooperativas, redistribuição, emissão estatal da moeda, etc.
Um regime hipoteticamente comunista, em que a igualdade entre todos os cidadãos seja intencionada, permanece necessitando determinar seu modo, ou princípio de regência, não importa se aristocrático, republicano, ou principado.
Na maioria das vezes os regimes socialistas se pretendem como Repúblicas.


Francia 714


3. Termos Críticos e Teóricos:

3.1. Um Princípio de Regência pode ser reconhecido, não importa se como resultado de uma guerra-civil entre as classes, ou se como resultado de um acordo-de-classes.

3.2. No Marxismo o termo “luta-de-classes” se tornou hiperbólico. A princípio teríamos um “conflito de interesses entre as classes”.

3.3. Seja como república ou principado, um regime do tipo soviético deve ter sua emergência planejando a produção, e fazendo o acordo entre as classes.
Ou, da mesma forma, um regime que fosse resultado de um tipo pacífico, cristão e utópico de “democracia”. Este regime teria que definir sua regência: não apenas no modo de governo, mas na forma do Estado, seus rituais, as lideranças, e sobre quais seriam as instruções cívicas do povo, das classes médias, etc.
O acordo entre as classes não seria de fato o “igualitarismo” social, sendo muito mais um acerto de compensações para as “diferenças sociais”. Ou seja, as diferenças como afirmações de especialidades e qualidades – não como “diferenças opressivas”, etc.

3.4. Todas as formas de repúblicas falharam nos séculos XIX e XX: as de base política liberal-burguesa, e burguesa-capitalista; de base popular-democrática, ou social-democrática; ou a república soviética.
3.5. A definição de Liberalismo se perdeu no século XX: Os autores Liberais do séc. XVIII desejavam justamente uma República que concedesse a seus Concidadãos todos seus direitos... Isso significava a princípio proteger os cidadãos dos abusos de autoridade monárquica/aristocrática, contra seus direitos de livre iniciativa profissional. Da mesma forma como diferenças sociais: proteger os pobres contra os ricos.
O sentido de Liberal, assim, não apenas não é o atual “neo-liberal”, como na verdade é antagônico a este sentido de “capitalismo generalizado”. Tradições “de Esquerda” apressadamente atribuem aos Liberais epítetos de “Direita”.
3.5.1. Como “Direita”, podemos ter a “Direita Moderada” ou Conservadora, que quer retardar as reformas sociais, porque afirma “o povo não está preparado”... Porém se utiliza de esquemas fisiológicos, e não da violência verbal. Já a “Direita Reacionária” é diferente: apelo verbal à violência e aos militares, à ação política, intensificando o conflito de classes. Já a “Direita Fascista”, são reacionários que decidiram pegar em armas, eles mesmos, para instaurar sua ditadura anti-popular.
3.5.2. Como “Esquerda” nós temos os Utópicos do séc. XIX, que acreditavam nas reformas benevolentes. A Esquerda Reformista, ou Social-Democrata, está mais preocupada com a organização e educação das massas, com mais ou menos conflitos no âmbito republicano. Porém, o que realmente importa é o estabelecimento de uma República que Planeja a Produção, que detém ou controla as indústrias, e que controla a emissão da moeda, e impede o parasitismo financeiro.
3.5.3. A noção de “Social-Democracia”, entretanto, foi associada pelos bolcheviques pós-1917 àquelas práticas que defendem as reformas sociais, porém sem jamais atingir o Estado Socialista, capaz de planejar a produção. Esta concepção, nos casos iniciais históricos, foi injusta -- como no caso da dedicada atuação de Karl Kautski nos anos 90: [a]
A “Esquerda Bolchevique” (Leninista) supõe que o Estado Socialista somente poderia ser alcançado com revolução popular, com apoio de sindicatos, e dos soldados.

[a] Podemos ler em G.D.Cole, History of Socialist Thought, 1957, London, Vol II, pag. 434:
Este é, assim, o Programa de Erfurt que os social-democratas alemães delinearam [1891, com a liderança Karl Kautski], se acreditando como marxistas sinceros, na aurora de sua recuperação da liberdade de propaganda, havendo sido repelidas as Leis Anti-Socialistas. Eles tiveram a assistência de Engels para a formulação de seu Programa, e o seu suporte político entusiástico, com sua preparação final. Em 1895 ... Engels escreveu sobre o P.S.D. alemão e seus dois milhões de eleitores como sendo
- a massa mais numerosa, mais compacta, a força-de-choque decisiva do exército proletário internacional -
Ele escreveu entusiasticamente acerca do excelente uso que o Partido havia feito do sufrágio universal, e contemplava cheio de expectativas o tempo em que eles teriam o suporte não meramente de um-quarto, mas de uma nítida maioria dos eleitores. Na mesma passagem ele deu ênfase às grandes mudanças que haviam ocorrido desde 1848 para a possibilidade de insurreições bem-sucedidas. Todas essas mudanças, ele dizia, tinham sido em favor dos militares, e contra os rebeldes, de modo que levantes não mais asseguravam, salvo sob circunstâncias muito excepcionais, qualquer chance de sucesso. Ele também dizia que os social-democratas alemães tinham demonstrado na prática que uma utilização maior poderia ser feita, das instituições de um governo constitucional capitalista, do que parecia possível em 1848, para avançar a causa dos trabalhadores...
[veja em apostila O Histórico-Antropológico]


3.6. Nesse sentido, os Liberais seriam o verdadeiro “Centro”. Porém, os Centristas por sua vez, podem ser meros oportunistas, fisiológicos... Ou serem líderes políticos atuantes que se preocupam com o equilíbrio/harmonia dos poderes dentro da Nação.
3.6.1. Nos anos 20 na Alemanha, e nos anos 50 no Brasil, uma república liberal e reformista era desejada, e estava plenamente se formando entre as lideranças. Nos dois casos, as repúblicas, que deveriam desfrutar de estabilidade, e participação consciente dos cidadãos, foram destronadas por golpes de estado baseados em intrigas e propaganda, patrocinadas por espionagem e serviços de inteligência imperialistas internacionais.

3.7. Em todos os casos, os apelos à “democracia”, ou “igualdade”, “legalidade”, ou mesmo “justiça social”, etc, apenas obscurecem o fato de que a cada vez todos desejam ter sua definição de República.
Entretanto, em todos nossos partidos, sejam os liberais (sentido estrito), ou reformistas, social-democratas, populares e socialistas, a reiteração do termo “democracia” apenas sugere a falta de definição real de um conjunto republicano.
3.7.1. A questão das lideranças e de seus programas é que está em relevo -- A questão do “poder popular”, em que pese seu caráter legítimo, adquire no tempo um valor mitológico: a participação popular depende de um certo período, até que o povo tenha consciência republicana adequada... Portanto, são as regências, isto é, os jogos de liderança, que deveriam estar em primeiro lugar.

3.8. De um modo geral a Dialética da História seria a de que uma ordem social inicialmente cívica e solidária, daria nascimento a um Estado. Esse Estado se tornaria a academia política da nação, onde os líderes apresentam governâncias que, ao longo do tempo, fariam a formação política e participativa de todo o povo.


Reconquista: as regiões de Castilla, León e Norte de Portugal foram tomadas no séc. XI -- Coimbra em 1064, não em 1109


62 - Princípio da Regência - 2













Lisboa: Paço da Ribeira, antes do terremoto de 1755


4.0. Em toda a História das Humanidades que conhecemos, o Modo Militar é a Forma Antropológica inicial. O Modo Militar é a forma social dos guerreiros, com seus generais e soldados seguidores. Com a vitória na guerra, o General vencedor se torna Rei Hereditário. Esta forma assim evolui para o Modo Monárquico, como forma de regência da sociedade.
O Modo Monárquico evolui para uma Forma Política, onde o Príncipe passa a governar para os súditos, é aceito, chega a ser celebrado. A Forma Política evolui para o Modo Cívico, onde as disputas políticas são levadas a termo de negociações, surgindo tipicamente como institucionalidades republicanas. A Forma Cívica finalmente abre o espaço para as formas de Sociabilidade: convívio comunitário, arte e cultura, comunismo produtivo.

4.1. A fórmula que ficou famosa como “ditado de Clausewitz” necessita de uma perfeita inversão: a Política é a Continuação da Guerra, por outros meios.

4.2. Assim como em Marx &Engels o Modo de Produção, a Divisão Social do Trabalho, é a Forma Antropológica mais determinante nas sociedades européias industriais, burguesas, do séc. XIX – a forma do Modo Militar é a mais determinante para todos os períodos históricos anteriores, ao longo dos séculos.
Entretanto, as classes burguesas perdem as regências do modo aristocrático, mas não conseguem estabelecer regências republicanas bem-sucedidas. Elas sofrem insurreições, ou têm que recorrer a caudilhos.

4.3. No séc. XX, a regência da Classe Financeira Internacional é um novo reinado de Regência desconhecido: baseado em jogos de propaganda, coleta de informações, e prêmios dirigidos aos Asseclas. A economia burguesa é subordinada ao financismo; os militares se atêm ao carreirismo; e os líderes políticos se submetem ao fisiologismo.

Veja nas páginas iniciais desse blogue.





Dom João IV deu início à Dinastia Bragança em 1640.




















Nos anos de 1580 até 1640, Espanha e Portugal estavam sob a mesma regência da coroa espanhola, com Felipe II e Felipe III. A Dinastia Bragança deu início ao Mercantilismo propriamente dito, em que a vida econômica era regida desde a Coroa, com as expedições militares dirigidas, cartografias e levantamentos, controle da emissão da moeda, e da obtenção do ouro e da prata, e da balança de exportações vs. importações.

 

O Princípio Diretor dos Estóicos

 














Apolo, Ática / Ano 277 das Olimpíadas


estoicismonagrecia.blogspot.com/2024/11/filosofia-da-stoa

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5.0) O Princípio da Regência e o Estado

Veja Apostila O Histórico-Antropológico; 2023, do Autor:

5.1) Os Povos necessitam de Príncipes e Repúblicas: O modo militar, aristocrático, monárquico evolui naturalmente para um Modo de Regência da sociedade. Não apenas os aristocratas impõem uma ordem civil de convivência ao povo: O povo também gostaria de ter uma Regência... que apenas os permitissem “viver em paz”.

5.2) O Princípio Diretor dos Estóicos: Na tradição dos filósofos Estóicos na Grécia (fundação da Stoa por Zenão de Citium, próximo a 300 aC), o Hegemonikôn designa a parte mais excelente da alma, seja do Zeus, divindade universal, seja de cada um dos deuses, ou dos humanos. Como consequência da atividade do Hegemonikôn do Zeus e seus auxiliares, todo o universo é atravessado por um Princípio Diretor ou de Regência.
Este termo é também muitas vezes traduzido como o atributo, ou “faculdade” de comando. No devir universal, ou Heimarmêne, os deuses são laboriosos, não oniscientes e onipontentes, mas produtivos, prodigiosos. Também eles devem produzir sínteses dialéticas na História Universal...
5.2.1) Para os humanos, o Hegemonikôn é a parte diretora, na alma, para as atividades do corpo físico e da consciência dos indivíduos.
No registro histórico dos poucos fragmentos de textos que restaram dos fundadores da Stoa, dessa concepção de Regência, que produz a Lei Universal, Zenão e Cleanthes derivavam uma ética de adesão, ou de se “viver conforme” as Leis da Natureza, Leis de Zeus, etc. Dessa forma temos uma Filosofia semelhante à do Logos Universal, de Heráclitos de Êfesos, ou do Tao Celestial, de Lao Tze, ambos contemporâneos em cerca de 500 aC.

5.3) Seja como fôr, a expectativa e a previsão da Regência surgem na natureza social – podem ser empiricamente determinadas, como interpretação da história, isto é, como Disciplina da História.

5.4) A Nação e o Estado: Quando uma Nação surge, se estabiliza, supera a violência das guerras inter-tribais, os representantes do poder nacional dão nascimento ao Estado da nação...
De início estas duas estruturas antropológicas compõem uma mesma realidade. Entretanto, com o tempo o Estado da nação se desdobra em sua vida interna: por maior que sejam os conflitos internos, os conflitos de classes, etc, o Estado surge como necessidade de estabilidade. Sendo despóticos os governantes, ou benévolos, a necessidade de mediação e estabilidade é uma demanda social, coletiva. Há um limite para os governantes despóticos uma vez que sua violência pode resultar em sua destituição... Em caso de guerra civil, não apenas o Estado é reconstruído, mas a própria Nação morre para nascer de novo.
Ou seja, a Nação como o resultado da vitória alcançada num concurso de guerras, e o Estado, não são apenas o resultado dos desejos, das ambições ou anseios dos povos: são estruturas sociais que levam os indivíduos, reis, generais, políticos, soldados, à ação, sem que eles tenham plena consciência do que fazem. A demanda surge no conjunto social, antes que os indivíduos decidam o que fazer a respeito.

5.5) Na formação da humanidade que nós conhecemos (limite empírico) sempre há uma sequência em que as nações surgem como resultado dos acordos, vitórias e derrotas na guerra. Em seguida, os chefes militares assumem casas reais e passam a ser estadistas. É a origem da noção de aristocracia como nobreza: “Aqueles que um dia lutaram” / “Agora assumem a governança”... Com a evolução da Regência reconhecida, esta adotará a forma de um Parlamento Real, e de vários tipos de Conselhos, ministeriais e judiciais; estes por sua vez evoluirão para um Estado Republicano. Todavia um Príncipe, mesmo um Condottiere burguês, poderia se manter indefinidamente, enquanto “Amado pelo Povo” / “Respeitado por seus Generais”.
Caso os Aristocratas sejam capazes de formar um Estado mediador dos conflitos internos, obtendo reconhecimento ou admiração nas camadas sociais, o Estado passa a ser o reiterador, o garantidor da Nação. Se os primeiros Reis forem arrogantes e desiguais, eles serão derrubados: novos governantes serão instaurados, no mesmo Estado; ou, o Estado é destruído, e com ele a própria unidade da Nação.

5.6) Contudo, para a análise das Nações e seus Estados que se originaram a partir das colônias européias, a sucessão Nação/Estado adquire aspecto diferente. Em cada caso, são os Estados formados nas colônias (Vice-Reinados) que recebem o encargo de criar a Nação a partir dos Estados.



Castelo em que nasceu Afonso Henriques, em 1109. Henriques era filho do Cavaleiro da Borgonha Henrique, que havia herdado Portucale em 1096 como um Condado da Coroa de Castela, depois de se casar com uma das filhas do Rei Afonso VI.


Sunday, June 8, 2025

Para Quem Deseja Encontrar -

Para Todos Aqueles que Desejam Encontrar
a Guerrilheira da Floresta

Reportagem de Outubro de 2015 na Tribuna de Petropolis


Rosa Luxemburgo e Jana Moroni Barroso são Moças que se tornaram Mitos: é somente assim que poderiam ser homenageadas...
Entretanto, há um excesso de Festividade, nessas comemorações de “guerrilheiros mortos” e “esquerdistas torturados”, que resvalam fatalmente para o demagógico, para o dispersivo, para o puro naïf... [!!!]

As Comissões Judiciosas para se poder saber “toda a verdade”, agem de modo engraçado: é como se uma Magnânima Corte fizesse juízo para determinar como exatamente enforcaram o Alferes Xavier... com que corda; por ordens de quem; durante quanto tempo ele ficou sufocado até morrer; para onde foi levada sua perna; para onde foi sua cabeça??

Todavia, a Judiciosa Corte nada é capaz de revelar; nem tem intenção de querer saber: quais as condições para a instauração de uma República no Brasil, a partir de lideranças em Vila Rica, etc; quais as chances que tinham estes republicanos precoces em vencer militarmente o Estado Monárquico Português, ganhar a opinião pública; por que foi o Alferes condenado à forca, e o Padre Toledo, eminente liderança burguesa, assim como todos os outros da sublevação, apenas exilados ou presos?


A reportagem que menciona a “busca” por Jana Moroni, do domingo 11 de Outubro//2015, na Tribuna de Petrópolis, é mais um presentinho açucarado com recheio de vinagre: terrivelmente apelativa, sentimentalista, e mal-focada.

E o repórter R.M. não deu a mínima atenção a nenhum dos materiais e comentários que lhe enviei, não consultou o material indicado no PT, e não me enviou a cópia da matéria
[Por sorte, consegui um exemplar da edição com um agente na Rua 16 de Março...]

Os “guerrilheiros do Araguaia”, para se tornarem dignos do Epíteto, fizeram treinamentos, e abraçaram uma disciplina espartana, que seria prontamente repudiada no “contexto sincero do dia-a-dia” pelos artistas de rua da Xúxa, e de palco do Cháplin; pelos funcionários-do-bomtempo indicados pelo PSB e PCdB; pelos candidatos a cargos executivos e legislativos no PDT, no PT do A, e do B, e do C... Estes mesmos, que tanto amam o esquerdismo figurado, estariam assinando listas e fazendo protestos “contra a ditadura” se, por Ventura, o regime Maoista do Pecê-do-Bê, data 1969, fosse instalado = digamos, no Perú = e estes rapazes e moças fossem peruanos “militantes pelas liberdades” = tal como agora...

A contradicção deste discurso é palpável: Se os “guerrilheiros” foram heróis destemidos, porquê agora eles se tornam coitados judaico-cristãos, sofridos, perseguidos e martirizados? Será porque a cultura judaico-cristã só beatiza os martirizados? Será porque “comunista bom é comunista torturado-e-morto” = ?? = Quero lembrar aos mesmos militantes figurados de esquerda acima que numerosas iniciativas de orientação marxista e/ou leninista e/ou reformista foram a eles apresentadas no período 2012-2014 em Petrópolis, para serem em seguida desprezadas e atropeladas = ou seja, a mensagem dos “comunistas” atuais, atuantes e “vivos” não parece tão interessante quanto “homenagens” aos mortos e desaparecidos...

Jana Moroni e os que preferiram a clandestinidade e o combate em 1971, repudiaram frontalmente estes valores sentimentalistas, os sentimentos reais das famílias preocupadas, a segurança dos salários e cargos, a carreira e o nome na praça, as campanhas eleitorais, os acordos com candidatos a Prefeito tendo em vista “participação no governo” = e Vocês agora ficam usando sem o menor recato o nome da "Santa Joana D’Arc" = nestas inserções de glória pequeno-burguesa!

Ao invés de ficar procurando “restos de corpos desaparecidos”, de resto “super” de mau-gosto, e juridicamente incongruente [1] = Não seria mais honesto apoiar os movimentos e a instrução de caráter marxista-leninista ATUAIS, que não estão de modo algum almejando alvos florestais e de campesinato impossíveis = e sim propondo uma análise da Hegemonia Internacional que dê o ensejo aos rapazes e moças atuais trabalharem politicamente, sem depender dos partidos institucionais da lógica-burguesa, sem depender das eleições, e de “cargos de governo”= ?? = Nesse caso os “partidários de esquerda” trabalhariam com os restos “políticos” dos militantes dos bons-tempos = não seria mais interessante??

Muitos artistas, nesse campo das Homenagens Teatrais, de-Fachada Institucional, teriam muito mais a ganhar, estudando a literatura da época, que mostra, até demais, que aquele não era o momento para um Levante = tal como em 1935 [2] = Não se trata de desconhecer a tremenda coragem e a valentia de quem tomou em armas durante o período 1969-1974 [Ditadura da CIA].

Exatamente na lógica oposta está a razão que diz: “Por serem valentes e ousados eles não observaram adequadamente o estudo dialético da História”, e acreditaram que um “apoio do campesinato” seria uma fatalidade histórica. E se tivessem seguido o manual marxista-leninista mais ortodoxo, teriam organizado uma resistência clandestina durante dez anos, fazendo as movimentações táticas adequadas nas classes-médias, no operariado, no campesinato...

E estariam vivos até hoje: e dando as indicações aos “militantes” e oportunistas alveolados na ordem institucional e eleitoral pequeno-burguesa... de que esta ação que eles reconhecem não é a "Ação Política” = a Política é a definição de um Programa e uma Carta, e a discussão com o Povo [num Município, p. exemplo] = [e com as classes médias e burguesas, senão “você não governa”] =

E os comunistas, vivos, estariam sendo esnobados pelo PT do A, PT do B, PT do C = pelos artistas de palco e de rua, e pelos bisonhos funcionários com “cargo de governo”...!





Rosa com cerca de 20 anos











Um dos títulos da matéria de 11 de Outubro => ... É inteiramente “fora da Real”:

“SONHO DE LIBERDADE MASSACRADO NO ARAGUAIA”

A “guerrilha” do Araguaia, em primeiro lugar, vem entre aspas, porque os 100 militantes armados não teriam previsão para “entrar em guerra” com tropas federais [e mercenários, cerca de 20 mil, com paraquedistas] = senão uns 15 anos depois, e com apoio de 20 mil caboclos campônios valentes [como depois foram os Zapatistas no México, e as FARC na Colômbia.]

O que eles pretendiam não era um “sonho”; e não era “de Liberdade”; e não tinha o “objetivo de destituir o governo militar e instituir um governo de esquerda no Brasil”... Como maoístas, eles tentariam obter apoio crescente das classes trabalhadoras, no campo e nas cidades. Isto demoraria muito, no mínimo mais de uma geração. Se eles obtivessem consenso nas classes trabalhadoras, poderiam tentar hegemonia militar, mas isso ainda seria muito pouco provável. O mais provável é que tivessem um “braço parlamentar” – talvez apoiassem a eleição de um Presidente Reformista e... Então dariam o Golpe de Estado, e toda a República Burguesa seria destituída... O Regime Maoísta, como Ditadura Operária, seria instalado.

Isto levaria a nossos buscadores de “guerrilheiros enterrados na Floresta” a assinar manifestos “contra a Ditadura”, que “persegue pequenos-burgueses felizes e libertários”, e assim por diante... Só mais uma ou duas gerações depois, a “Liberdade” seria alcançada, com a vigência do Comunismo Pleno e Perfeito.


Muitas afirmações do Ator Moroni como depoente central do “drama” da “desaparecida política”, na matéria de Outubro/11, não são verídicas: a necessidade sentimental, apelativa e demogógica, faz obscurecer justamente o caráter revolucionário e ousado da Operação Araguaia, transformando a todos em “perseguidos e injustiçados”. Não foi a “luta por um país democrático”, no sentido da ideologia libertária pequeno-burguesa, que motivou “Jana... a ir para a região do Araguaia em 1971”. Foi no sentido “autoritário e militar” maoista. Não é verdade que “Jana teve que fugir”: ela anunciou que “entraria da clandestinidade” por decisão própria no início de 1971. Não é verdade que ela foi “perseguida na Universidade”.

Não é verdade que ela “herdou o espírito guerrilheiro dos pais”: os pais da estudante, como tantas novas gerações dos anos 50 e 60, acreditavam fervorosamente na solução prática e natural do nacionalismo e Estado Reformista; nenhum brasileiro sensato pensaria em “luta armada”. Foi o golpe de Estado contra Jango que trouxe a justificativa [e a correlação necessária] para os comunistas e revolucionários, mas isso não era o desejo das pequeno-burguesias nacionalistas.

Ao contrário do afirmado, os pais “não” apoiaram a “luta da Jana”; na verdade, imploraram que ela não entrasse na clandestinidade, por ser medida perigosa e em excesso, tendo em vista o estabelecimento da ditadura nazista militarizada da CIA a partir de 1969. [3]

E ainda, o fato de alguém “prestar depoimentos” aos representantes da Ditadura, não quer dizer que a pessoa “foi presa”. O Sr. Girão, pai da estudante, apenas deu depoimento no batalhão D.Pedro II em 1965, porque era membro do [inofensivo] Partido Socialista. Muito antes, portanto, das perseguições e desventuras do período nazi-fascista que começou com o AI-5 em dezembro de 1968.


ATENÇÃO homenageadores de comunistas torturados e mortos com nomes de praças e estátuas: Vocês não percebem que isto é exatamente o que os comunistas “detestariam” merecer, ao “praticar seus atos”...?? Esta lógica pequeno-burguesa sentimentalista, tópica e ornamental = que eles abandonaram em favor da guerra aberta?

Ó: vocês são chatos, hein?! E deixem o nome do Carmona lá na praça, podem ficar certos que não é o lugar da “guerrilheira da floresta”...! [5]

C.M.Barroso



















[1] Os “guerrilheiros” se meteram nos campos e florestas do Araguaia justamente para “não serem encontrados”...

[2] Alguns verdadeiros autores “comunistas”, desconhecidos por amiguinhos “de direita” e “de esquerda” atuais, revelaram que, justamente a adesão tardia e incompleta de L.C. Prestes aos autênticos “manuais” da interpretação histórica do marxismo-leninismo, foi razão de sua defesa precoce da “revolução” no País Brasil dos anos 30, semi-industrializado, semi-alfabetizado, com o campesinato tão abestado quanto no séc. XIX, e com a Burguesia ainda em ascensão... [4] O Ato Revolucionário em 1935, de reduções castrenses, se tornou “intentona”, e deu à Burguesia Brasileira rancores e motivos “anti-comunistas”.

[3] A qual desfez a correlação mencionada para os movimentos revolucionários, devido à superioridade militar, estratégica dos imperialistas.
Tive a oportunidade de acampar com a Jana Moroni e seus colegas futuros milicianos do Araguaia, na praia de Itaipuaçu, antes que ela anunciasse o ingresso na clandestinidade [e na “luta armada no campo”, como só viríamos a saber em 1977]. Com a idade de 16 ½ anos, toda a preparação dos ex-estudantes que iam se tornar milicianos me pareceu demasiado espartana e assustadora; e me pareceu claro, desde então, que não fazia sentido desafiar a ditadura diretamente naquele contexto.

[4] P. exemplo, Basbaum, História Sincera, vol. III, cap. 4:
=> Assim a Aliança Nacional Libertadora, que fora criada para que através dela o Partido Comunista se pudesse unir às mais amplas massas, estava sendo a pouco e pouco abandonada por estas massas, deixando os comunistas sozinhos. “A idéia do assalto amadurece na consciência das grandes massas”, diz um dos manifestos assinados por Prestes. “Por um governo popular nacional revolucionário! Todo o poder à A.N.L.”. Pelo visto esses longos manifestos não conseguem impressionar as “grandes massas” que começaram a abandonar a Aliança. Por isso mesmo, o movimento se fez sem elas.

[5] O nome Carmona tem lírica sonoridade lusitana... (Ainda que o Marechal português tenha sido caudilho da Direita.) Porém há muitas outras famílias Carmonas, cheias de amor no coração. [Talvez um bom Decreto seria para: "Praça do Carmona"].


60 - Do Cívico

Do Cívico, do Social, da Sociabilidade

Diário de Petrópolis

11 de julho de 2008

O período de quase democratização republicana que se seguiu na sociedade brasileira a partir dos anos 80 deu nascimento a esta política que a fala comum passou a denominar de “fisiologismo”, um termo que não deixa de sugerir um quê de inocência e desprendimento... É injusto se pensar que os políticos são “iguais sempre”. O período de desenvolto fisiologismo dos anos 80 (hegemonia do PMDB, PFL, PTB, PL) não teve precedentes no país em termos das contabilidades partidárias não contabilizadas, organização solidária de colegas para a ocupação das máquinas governamentais através do processo eleitoral, e uso de propaganda sofisticada e truques de marketing para a obtenção da graça eleitoral.

É desse período a imagem do político “oficial”, que tem as vitrines externas cheias de brilho artificial, mas nos fundos de copa-e-cozinha o que ocorre é a “baixaria”. Por comparação, os políticos do coronelismo dos anos 20, e os políticos populares-populistas dos anos 55-64, se expunham mais à sociedade com seus rostos verdadeiros.

Foi nessa sequência que nossos partidos deixaram de representar as correntes da sociedade brasileira, e passaram a ser meramente, mas de forma retumbante, máquinas eleitorais. Aos indefesos eleitores passou-se a induzir o raciocínio de que “tudo que eles querem é o poder”, e os “políticos são todos iguais porisso”... Claro, isto como consequência dos meios de comunicação martelarem a mente dos cidadãos com a idéia de que estar no governo é “estar no poder”. Aquilo que mais se odeia, e mais se acusa, é aquilo que mais se quer, “o poder”, o que por outra via, justifica tudo.

Pergunta-se: quem está no “poder” no Palácio do Planalto? Lula? A burguesia? A Petrobrás? A classe trabalhadora? (Os “bolcheviques”, como quer o Jabour?) Ou os Bancos? O capitalismo especulativo internacional??

Entretanto, caro leitor, este período de “desprendimento” dos políticos dos anos 80 já é coisa do passado. Temos agora o político tipo “máfia”, sem aspas. A nova geração dos politicos brasileiros tem horizontes ilimitados de arroubo e audácia para a coleta de fundos “não contabilizados”, que se tornam finalidades muito mais que “utilitárias” das máquinas fisiológicas, se tornando dourados e refulgentes símbolos de “poder”...

Seus seguidores não são apenas uma claque de correligionários ansiosos por nomeações. Agora são guardas de “honra” armados e do ramo mais treinado nas instituições policiais, prontos para neutralizar ou intimidar qualquer oponente, que seja meramente verbal. Seus colegas não são apenas partidários somando doações benevolentes, mas “laranjas” que passam a colaborar na administração de redes de empresas e fundos fabulosos que se perdem de vista. O suborno, e o grampeamento de telefones de colegas e adversários com mesas de escuta, se tornam práticas comuns. A Casa de Governo, enfim, é uma reunião doméstica comandada pelo chefe, com todos aqueles que são seus seguidores fiéis, “amigos leais do chefe”...

Os chefões eleitorais-partidários se vêem como heróis de confrarias secretas auto-celebradas pertencentes a filmes hollywoodianos... Desenvolvem todos os “desempenhos” do ator cara-limpa, que discorre sobre coisas simples e comuns, que diz que cuida do povo, que diz que “está tudo bem”, quando toda a cena moral se desmorona em volta. Tenha-se como referência o eleitoralmente vitorioso ex-governador dos campos goytacazes, que permanecia na rádio evangélica declarando o quanto era temente ao “Senhor”, na mesma sequência em que comandava esquemas escabrosos com o seu Chefe de Polícia Civil – segundo o que foi apurado pelo Ministério Público e Polícia Federal.

Este novo regime yuppie-cruel está instalado em todo Brasil, a níveis federais, estaduais, municipais. Em Petrópolis, as lesões ao estado civil e a agressão à sociabilidade envolvendo a classe política são neste ano eleitoral de responsabilidade máxima do atual ocupante do Palácio Fadel. Trata-se neste ano não apenas de novas decisões eleitorais, mas de uma necessária cruzada para se restaurar a ética na política municipal.


Lambam$sa na Convenção do PDT Municipal em 2008

* Os sindicalistas agiam como célula com tipo de orientação marxista-leninista. Pode ser que fossem aliados antigos dos brizolistas do Rio, o que não ficou claro; e ainda qual o acordo que teriam com o Lôbo Lupi.

** O Alcaide tinha dívidas e negócios inenarráveis com seu ex-segurança. A partir daqui podemos poupar o leitor de maiores detalhes, exceto para concluir que nem um pingo dourado desses fatos *** saiu na “mídia” local - com a exceção da valorosa inclusão deste artigo pelo Diário de Petrópolis.

*** Incluindo-se o aparato mafioso de Don Pinguim Arlequim Dourado na Convenção, no Bogari, em junho de 2008, com seus guardas-malas e aparelho de escuta telefônica dos colegas (aparelho apontado por um de seus asseclas, e delicadamente mencionado pelo Sargento Gonçalo).

**** Brizola ergueu a mão do candidato a Prefeito na Convenção do PDT em 2000 no clube Bogari [ou Palmeira??].


Comentário 2014

Em 2008, o Prefeito Bem-Sucedido estava ao final de seu segundo mandato. Ele e o Pinguim Dourado ofereceram gorda propina ao Lôbo Lupi para que este ordenasse a intervenção no Diretório local do PDT, para afastar os antigos brizolistas. E eles tudo fizeram atropeladamente, tomando a sede do PDT com capangas e criados, nos acusando de "inoperância", fazendo uso da Renata-16 como “Presidenta Interventora” (“olha que meu marido luta karatê, hein, eu estou ligando para ele no meu celular”)...

O Pinguim [Juvenil] Dourado se mantinha na sombra, para ser o candidato a Vice-Presidente na próxima eleição do Diretório. As luvas da intervenção foram de 450 mil, com 50 mil mensais até as eleições.

Aconteceu que alguns rapazes sindicalistas da Petrobrás (aparentemente inspirados pelos brizolistas do Rio) conseguiram se incluir no grupo a ser votado para chapa dos interventores, a ser legitimado nas próximas eleições do Diretório.* Eles não conseguiram “chapa única” na votação, porque os pedetistas, liderados pela nobre figura do ex-presidente brizolista, organizaram uma “chapa de resistência”... No dia da apresentação das chapas, no casarão em cima da antiga pizzaria Don Corleone, o líder dos sindicalistas audaciosamente anunciou sua inclusão em nossa chapa...!

Foi o caos: o “mestre” Ivo (propinado do Arlequim Dourado, que era então o Presidente da Fundação de Cultura) avisou ao abnegado ex-presidente brizolista: “cuidado, nós somos um tipo de comando vermelho...” Vários rapazes nervosos dos dois lados com armas nas cintas. Ao final, para advertir os dissidentes sindicais petroleiros, foi chamado o guarda de segurança de Don Alcaide Corleone Bomtempo, o Sargento Sangonçalo... A ação habitual do Sangonçalo era apontar sua pesada arma ao desafeto, dando-lhe obscena intimação... O que ele acabou fazendo depois, em três oportunidades, durante a campanha eleitoral, contra membros do grupo do próprio Alcaide, agora seu ex-Chefe e adversário: duas vezes no camarote eleitoral por diferenças com os subordinados; e uma dentro do Gabinete da Prefeitura... Por sorte, o titular não estava presente na ocorrência policial...**


Saturday, June 7, 2025

59 - A Política 2008

Os Partidos

Tribuna de Petrópolis

30 de maio de 2008

Os objetivos do golpe de Estado no Brasil não foram alcançados senão quando a política dos partidos se tornou definitivamente um espetáculo promocional festivo, cheio de tédio, individualista, sob confissões de “alegria” e “dedicação” inteiramente decorativas... Ao povo se oferece para a escolha eleitoral postulantes, da mesma forma que jogadores de futebol para a “grande copa”, ou vedetes para o “grande prêmio do cinema”...

O golpe de Estado nos países latino-americanos não deve ser compreendido como resultado de “interesses ianques” – como se Henry Kissinger, a CIA e o Pentágono, Lincoln Gordon, e todos os outros, trabalhassem para fazer prevalecer os interesses da sociedade de seu país, ainda que de forma violenta, lesando porisso os direitos das sociedades dos países do “terceiro mundo”.

Esses atores, assim como os serviços secretos militares a serviço da CIA, o monopólio das telecomunicações capitaneado por Roberto Marinho nos anos 80, o ataque dos Bushes e de Israel ao mundo árabe, e a candidatura Hilary Clinton, são facções muito bem posicionadas para defender os interesses do super-estado financeiro-feudal promovido pelos banqueiros Rothschild ao longo do séc. XIX, e pelos banqueiros Rockefeller a partir de 1919, com suporte de várias outras dinastias financistas. (Leia-se “Clube Bilderberg”, Daniel Estulin, Ed. Planeta, 2005). Este super-estado paralelo domina o Ocidente, e lesa os interesses dos povos ianques, latino-americanos e europeus igualmente (financiando Hitler, p. ex.).

A idéia de que a classe política precisa ser levada ao ridículo, se tornando uma claque de atores deslumbrados, sendo criadas falsas contradições, e jogando-se os atores uns contra os outros através de propaganda e de meios de comunicação monopolizados; o projeto central de corromper as instituições civis e “minimalizar” o Estado; a promoção da cultura vulgar e pornográfica; a promoção da criminalidade e da polícia corrupta; a compra dos governantes – enfim, são os conceitos centrais do famoso manual “Protocolos de Sion”...

Antes que se diga, estes “protocolos” não pertencem, e não defendem, os interesses supostamente de algum "povo judeu" [no sentido de herdeiros do antigo povo hebreu], os quais são também usados como "massa-de-manobra".

Os Protocolos de Sion, concebidos ao longo do séc. XIX pela dinastia Rothschild e pelos “Illuminati” da Bavária, são uma espécie de “chicletes”: quanto mais se tenta provar que seriam “forjados”, mais fica evidente seu macabro fundo de pura realidade!

A imposição do projeto dos “protocolos” se mostra tipicamente no Brasil com o sucesso eleitoral de Fernando Collor em 1989. A resistência à hegemonia do super-estado monárquico-financeiro se deu na América Latina através de algumas lideranças que entenderam a necessidade de se reforçar os Estados nacionais, e “politizar” a classe política: dar a ela um projeto moral e de compromisso, muito além da mera distribuição de benesses e agrados ao “povo”...

O fato específico que denota a hegemonia dos banqueiros é que nenhum governante, Presidente, Governador, Prefeito, tem qualquer eficácia, caso não tenha “muito dinheiro”: verbas oficiais e bastante “caixa-2”... Ao contrário, sendo um político voluptuoso, vazio, sem projetos, mas com “muito dinheiro”, com certeza o sucesso lhe sorrirá, com aplausos, holofotes e homenagens na “mídia” totalitária.

Nos tempos de antanho, quando a política dos partidos funcionava no Brasil, o país teve o que se poderia denominar um projeto de Social-Democracia. Em sua forma mais verdadeira, este conceito diz respeito à união da classe empresarial que acredita no verdadeiro livre-mercado, com a classe média liberal, e com a classe trabalhadora, contra a oligarquia financeira e os monopólios cartelizados internacionais.

Um Estado Nacional Social-Democrata eficaz, entretanto, não pode depender exclusivamente do torneio eleitoral, tão facilmente manipulado. É necessario a educação política, civil, ética, dos votantes. Esta seria a princípio a função dos partidos.

Contudo, vivemos na perfeita contra-mão da História: ao invés de serem os partidos uma expressão da consciência civil da sociedade, e daí formando seus projetos, e seus quadros, que seriam os candidatos do jogo eleitoral, e que, uma vez eleitos, estariam expressando como líderes estes projetos coletivos partidários, - o que temos são lideranças que se utilizam dos votos partidários e eleitorais para alcançar as máquinas de governo, para dar cargos a seus seguidores, os quais se tornam tropa de choque do líder, se tornando os partidos empresas eleitorais-marqueteiras-propinodutas, que trabalham para os projetos individuais dos líderes, para a reconquista dos Executivos a cada novo torneio eleitoral, o que se repete indefinidamente...

Em tempo: para aqueles que apostam no “enterro de uma sigla”, o retorno de Leonel Brizola e a fundação do PDT foi um exemplo de resistência à politica feudal-financeira no Brasil, em 1980.

C.M.Barroso

 

58 - Assessores e Asseclas


 

 

 

 

 

 

 

 

 

Homenagem ao amigo do Val, Beto José, da taverna, brizolista e camisa fluminense... desde que assumiu a administração do Parque de Itaipava, trabalhou incansavelmente, sempre fanatizado pela tarefa de confiança que lhe havia sido passada por seu amigo Prefeito em 2001. Nas eleições de 2004, o Prefeito ganhou em 1º turno, iniciando novo período administrativo petulante e insensível. O irmão do Prefeito, que era um cara muito arrogante, assumiu o controle da Fundação Cultural (tendo como Presidente o Swine, codinome, totalmente alheio e inexpressivo).

Eles não produziram nada, como programação artística, apenas fizeram uma reforma super-faturada do Theatro, no valor de 1 milhão e 800 mil. Tratavam mal os artistas e zombavam dos funcionários, e levaram uma grana obscura lá da Fundação, em propinas. Em 2005 eles deixaram o Beto José sem apoio administrativo, e se esqueceram que o Beto era nosso velho amigo do bairro, e vestia nossa camisa...

 

Assessores e Asseclas

Tribuna de Petrópolis

24 de março de 2005

O funcionário público trabalha dois anos inteiros sem férias. Seu principal assessor é afastado. Em consequência o funcionário, que adora sua função, passa a trabalhar também nos horários do assessor, o que significa sábados e domingos. O funcionário reclama de alguma coisa; suas recomendações, úteis ao público, não são ouvidas... A resposta dada ao funcionário: “Mas nós lhe demos um emprego, do que você reclama?!”

A Sentença permanente, que paira na testa de assessores e asseclas de políticos detentores de prerrogativas executivas – “Mas eu lhe dei um cargo” – é a confissão plena e espontânea de como o político vê suas funções.

Não temos aí o interesse público como o elemento essencial. Ao invés de: “Você é nosso amigo, correligionário, você é competente diante do interesse público, portanto recebe um cargo” – o que temos é: “Senta no cargo, aguarda as ordens do Chefe, vamos trabalhar para a vitória do Chefe.” A vida política brasileira contemporânea foi tomada pelo mais desenvolto fisiologismo. Os caciques instrumentalizam os partidos e os cargos bisonhamente ofertados para o estabelecimento de máquinas eleitorais de marketing e clientelismo organizado que visam a manutenção dos caciques no Executivo, para que eles possam “ofertar cargos”, e se manter no que eles supõem ser “o poder”.

Se os partidos fossem minimamente organizados em torno de programas, ideário, tradições, e mesmo fidelidades pessoais; se fossem organizados em termos de quadros solidários, os caciques tomariam posse e diriam: “Aqui estão os cargos, eles representam o partido.” Não haveria mal que um governo fosse organizado como uma república de amigos, e na base da fidelidade pessoal, desde que os quadros representassem um partido, um programa, e não a figura do chefe; desde que representassem o interesse da sociedade. É demais pedir isso hoje em dia. Os políticos precisam vencer a “qualquer preço”, e alcançar “o poder”. Mas o que é o “poder” – nos termos atuais? Apenas os cargos de responsabilidade pública de executar obras, administrar serviços, etc; dispondo do orçamento público, e dispondo os Executivos de ótimos salários e muitos assessores. Os Executivos, neste caso, estão apenas a cumprir suas obrigações, nada mais.

O poder, a política da sociedade, seria de verdade a capacidade de representar a vida social como um todo – de modo a que se possa tratar das causas dos problemas, não de efeitos setorizados, e isso só quem poderia fazer seriam os partidos organizados – quadros e massa inteligentes.

O instinto pequeno-burguês para ser “rico, famoso e importante”, faz de todos prisioneiros do mesmo raciocínio que diz: “Eu quero ser rico, famoso e importante – e você também!” Se a volúpia do indivíduo ascendente é estigmatizada pelas pessoas que têm real preocupação com o estado da sociedade, da cultura, da administração pública, o político ascencional dirá: “Mas você não conseguiu ser rico, famoso e importante – eu consegui!”

Invariavelmente, a dissidência política e as questões pontuais de administração pública são respondidas pela difamação pessoal – que foge ao debate – e desvalorização do indivíduo. Para o pequeno-burguês “tudo” é a luta individual pelo sucesso.

Chega-se a duvidar do valor de uma “democracia” em que o eleitorado é inculto, manipulável, carente – e sujeito a tanto “marketing”, caixa-dois, compra de votos na rua, e até dentro das urnas. O assistencialismo localizado é ato de humanidade, mas o “assistencialismo continuado” é “prejudicial à socialização” (Reinaldo Bezerra). Na prática do clientelismo organizado, que em todas as ações vê o resultado dos “votos”, o estado de carência da sociedade é mantido de forma ideal de modo a requerer o assistencialismo organizado que a administração pública pode oferecer, sem mudar as condições de origem da carência, perpetuando assim os ciclos de assistencialismo e máquina eleitoral.

Melhor, pelo menos, os caciques que, mesmo fora da democracia formal, trabalham pela transformação da sociedade dos carentes e alienados.

C.M.Barroso

 

Comentário 2014

O Beto vivia amargurado e, no princípio de 2006, ele nos deixou... No dia da despedida, o Prefeito apenas mandou representante, uma camiseta do Fluminense... o Beto deixava de ser amigo de infância e correligionário.

Essa forma típica do yuppie-cruel em obliterar todas as fidelidades, e a integridade das biografias pessoais, em função de um afã de sucesso irresistível; e, mais do que isso, quaisquer compromissos com partidos, cartas, declarações de princípios... isso é a própria "direita" em forma "neo-liberal": "mando porque tenho que mandar/ mando porque sei mandar/ mando com meus asseclas"...

O histórico do Prefeito 3 vezes eleito em 2000, 2004 e 2012 é o da traição em cada Curva do Destino: entretanto, fica claro que este é um método seguro para se eleger, e se reeleger duas vezes... e a segunda reeleição toda na contra-mão Judicial.

Leonel Brizola havia tomado a mão do Vereador na Convenção em 2000, e apoiado sua candidatura a Prefeito. Eleito em 1996, havia sido excelente Vereador, mas a cúpula do PDT em Petrópolis preferia apoiar o ex-Prefeito Paulo Gratacós (PSB) para a prefeitura. Com o apoio do Brizola, saiu o Vereador (o que terá ele prometido ao líder??), como candidatura própria do partido. O PDT era numeroso e foi às ruas em peso para a campanha, e ainda elegeu 4 Vereadores... Uma frente ampla se constituiu, com pdt-pt-psb-pcdb-pv, e depois pps... a cidade se encheu de bandeiras vermelhas!

O ex-Prefeito Rattes estava na segunda posição em 2000, na disputa para a Prefeitura contra o então Prefeito Sampaio. O jovem Vereador da frente-de-esquerda na terceira posição, não parecia ter chances em junho... A Direção do PDT procurou o Vereador para lhe avisar que o Rattes queria entrar em negociações. O Vereador esnobou a Direção partidária: "Eu já tenho meus assessores para isso, não preciso do Partido!!"

Ele e o candidato a Vice-Prefeito do PT desprezavam o ex-Prefeito Rattes, que estava então no PPS: "um politico sem compromissos, não é de esquerda!". Na reta final daquelas eleições petropolitanas (sem 2* turno) o Rattes renunciou em prol do Vereador da Frente, e eles ganharam!! O Rattes passou a ser tratado como um "grande cara, gesto nobre!"

O eleito deu alguns cargos a membros do PPS, mas se recusou a qualquer composição política. Em Janeiro de 2001, vinte dias depois tomar posse, o prefeito-novo traiu o PDT, e o compromisso com Brizola, saiu do Partido e se inscreveu, com uma troupe, no PSB... Consequência do morfético sussurro de traição do rapaz radialista de Campos, que havia se tornado Governador em 1998, desmerecendo o PDT, ao qual devia tudo: "Você assina comigo no PSB, vai ter todo o suporte político e econômico do Governador para seu mandato, larga esse pessoal dos brizolistas em Petrópolis".

E no mês de Maio de 2001, o Candidato rompeu com o Vice, e com o PT, e deu início a seu governo autocrático, inteiramente centrado em seu grupo residencial-nepotista, só aceitando puxa-sacos e alguns amigos ultra-cabotinos em cargos decorativos [o cínico-inculto "Judeu-Perfeito" Tobelem, o Brother-Yankee, o Swine], e afastando ao máximo do governo os representantes da Frente de Esquerda, com suas bandeiras vermelhas.....

Novamente em Maio de 2008, o Prefeito, em solene e tranquilo segundo mandato, resolveu trair o candidato do PSB a Prefeito... Os Petistas (o antigo Vice, e o antigo Presidente da Câmara de 2001-02) haviam passado os últimos 7 anos em profundo antagonismo com o Prefeito. Eles foram convidados a tomar posse na Secretaria do Meio Ambiente (desalojando os membros do Partido Verde, ali alojados). Os Petistas estranharam um pouco, mas decidiram aceitar. Em seguida, foi decidido que o representante do PT deveria se tornar, de súbito, a indicação do Prefeito como candidato a seu sucessor ... Todavia em Junho o Prefeito traiu o representante do PT, e não apoiou mais ninguém.

youtube.com/watch?v=b5DuFsgBWYk

Em 2013 o Prefeito decidiu trair Alexandre Cardoso, que havia sido seu padrinho no PSB, e convocou um afastamento do PSB do Rio da aliança com PT e PMDB. Em 2014, com mandato de "mágico" - que escapuliu da suspensão judicial da candidatura e do mandato - se credenciava para apoiar Marina, o mais novo anjo exterminador da política nacional.

youtube.com/watch=yz3dZRaKCpk

 

57 - A Política 2002

Lula Jango

Tribuna de Petrópolis

Novembro de 2002

Os Brasileiros terão direito a muitas fanfarras neste próximo janeiro, a comemorar, quase 39 anos depois, a restauração das condições de governo usurpadas pelo golpe de estado de Primeiro de Abril de 1964. Um verdadeiro conto do vigário aquela quartelada patrocinada pelas instituições clandestinas dos EUA que, a pretexto de "salvar" o Brasil do "comunismo" - cujas correntes não tinham condições para a tomada do poder no país - destruiu nossa independência econômica, as conquistas trabalhistas, e as esperanças democráticas dos milhões de concidadãos.

É inacreditável que a ditadura dos anos 60 tenha durado o dobro do "tempo lógico" previsível, assim como o período seguinte de "abertura democrática" tenha se estendido, sofridamente, o dobro do tempo necessário.

A brilhante vitória do metalúrgico Luís Inácio, que exibe neste momento grande preparo (em comparação com o Luís Inácio de 1989) nos reconduz, com muitas semelhanças, às condições políticas e governamentais do período 1955-1963. Assim como Luís Inácio da Silva, detinha na época o Presidente João Goulart amplo apoio eleitoral e sindical para a realização de algumas reformas profundamente necessárias, as reformas "de base". Assim como Goulart, dispõe no momento Inácio da Silva de razoável apoio em setores da burguesia nacional e na classe política. Ao contrário de Goulart, dispõe no momento Inácio da Silva de amplo apoio no setor militar, baixo e alto oficialato, os quais sentiram na carne os efeitos da abertura de nossa economia, e de nossa soberania, às estratégias de dominação do capitalismo internacional. Entretanto, diferentemente de Goulart, não dispõe Inácio da Silva do apoio de [alguns] setores importantes nos meios de comunicação. Como se sabe, os meios de comunicação, hoje em dia são muito mais decisivos politicamente que generais controlando tropas, ou que políticos dedicados ao exercício democrático. 

Atualmente, já dispomos de um levantamento sobre as condições sinistras de manipulação clandestina para a destruição das democracias latino-americanas nos anos 70, sob o mando da CIA, o que foi batizado sob o nome de Operação Condor. Sobre as ações da CIA nos anos 60 na América do Sul vide Dentro da Companhia - Diário da CIA, Phillip A.G., 1975, Ed. Civ. Brasileira.

Não foi feita, entretanto, uma reconstituição pública da figura de João Goulart, das enormes dificuldades políticas e das tramóias que teve que enfrentar para o exercício de seu mandato legítimo. Como em toda guerra em que os vitoriosos impõem suas versões, a figura de Jango foi descaracterizada, desrespeitada: quiseram apresentá-lo como se fosse “despreparado”, como se fosse indeciso e sem pulso, como se não tivesse projetos consistentes para o Brasil. Versões que podem ser facilmente desmontadas com um punhado de depoimentos e relatos históricos, o que poderia ser feito pelos meios de comunicação a qualquer momento, caso o desejassem.


Até o Jânio já conseguiu se instalar lá, no Palácio da Alvorada... porém o Jânio durou pouco, porque não tinha esquema, nem proposta de governo, nem condições como indivíduo político. Sua renúncia após sete meses foi a razão de toda a "crise", alardeada pelos meios de comunicação escravagistas mentais naquela época, tal como hoje.

Jânio foi eleito devido ao apoio da UDN em 1960: Nem o Marechal Lott, nem Juscelino Kubitschek, nem João Goulart tinham qualquer comportamento politico irregular ou duvidoso. Jango assumiu porque era Vice, e como Vice tivera tantos votos quantos Jânio, portanto poderia ter saído direto candidato à Presidencia.

Toda a crise na época foi consequência essencial de a UDN ter apoiado um candidato anti-político. A eleição de Fernandinho Collor repetiu a cena. A de Marina Silva, repetiria.

 

Uma das fontes seguras para uma justa compreensão das terríveis dificuldades colocadas no caminho de João Goulart, e do quanto ele era de fato um dos mais preparados políticos brasileiros para a tarefa que se impunha...[*], é o livro do acadêmico, pesquisador e jornalista Moniz Bandeira, O Governo João Goulart: As Lutas Sociais no Brasil, 1977, Ed. Civ. Brasileira.

Para que se compreenda a monstruosa deformação da biografia política deste brasileiro afável e bem-intencionado, basta que façamos referência a algumas passagens desta cuidadosa pesquisa de Moniz Bandeira, baseada em documentos e depoimentos originais daqueles envolvidos diretamente nos acontecimentos:

Nomeado por Vargas Ministro do Trabalho em 1953, ele suportou violenta campanha desde o primeiro dia de sua gestão. Durante oito meses, todos os dias, jornais burgueses, vinculados pela publicidade aos interesses das corporações internacionais, intrigaram-no e agrediram-no. A Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, orquestrava o coro, possivelmente financiada pela CIA, acusando-o de pretender, com Vargas, implantar no Brasil uma República Sindicalista, ao estilo de Perón. Os ataques recrudesceram quando ele sugeriu a elevação de 100% para os salários mínimos que vigoravam na época. E a campanha, primeira etapa do golpe para a deposição de Vargas, culminou com um memorial, assinado por inúmeros Coronéis e Tenentes, exorcizando o "comunismo solerte" e condenando a medida anunciada, sob a alegação de que subverteria os valores profissionais.

"Goulart caiu. Mas, segundo ele próprio salientou, não se deixaria intimidar com o descontentamento que sua conduta provocara - 'naqueles que vivem acumulando lucros à custa do suor alheio'. Ao resignar o cargo de Ministro do Trabalho, encaminhou a Vargas os estudos para a adoção de várias medidas de maior alcance: revisão dos níveis de salário mínimo, congelamento dos preços, extensão das leis sociais aos trabalhadores do campo, e fiscalização, pelos próprios operários, do cumprimento da legislação trabalhista. 'Acredito que tenha colaborado para dar um sentido mais social e mais cristão à nossa democracia' - escreveu a Vargas..." [pags. 31, 32]

"Apesar das infâmias que aturou, Goulart se elegeu Vice-Presidente da República, em 1955, com 3 milhões 591 mil e 409 votos, meio milhão a mais que o seu companheiro de chapa, Juscelino Kubitschek. Como ele própro declarou, era - 'a resposta do povo aos inimigos do regime, que se preparavam para assaltar o país, instituindo o Governo dirigido à distância pelos trustes internacionais, durante o qual seriam liquidadas as conquistas sociais alcançadas pelo trabalhador'. " [pag. 35]

"Ao contrário do que seus adversários difundiram, Goulart não estava despreparado para dirigir o País, quando chegou a Brasília, após dez dias de crise, em 7 de setembro de 1961. [**] Tinha mais condições de exercer o cargo de Presidente da República, do que Jânio Quadros e, quiça, do que o próprio Kubitschek, em 1956. Levava um programa de governo - o das reformas de base - e larga experiência na política federal, o que lhe dava uma visão mais ampla, menos provinciana, dos problemas brasileiros. Bacharel em Direito, fôra Secretário de Justiça do Rio Grande do Sul (governo de Ernesto Dornelles), Dep. Estadual e Dep. Federal, estivera no Ministério do Trabalho e, por duas vezes, se elegera Vice-Presidente da República, ocupando, cumulativamente, a Presidência do Senado Federal." [pag. 43]

A lição que se impõe no livro de Moniz Bandeira é a de que não é suficiente para um Presidente reformista estar bem preparado e ter bons planos. As reformas são atacadas justamente em função de sua viabilidade... Se for moderado, o Presidente é acusado de não ter pulso firme, se tem pulso, é acusado de ser radical comunista. Esse é o velho-novo desafio entregue ao presidente Inácio.

 

[*] As chamadas reformas "de base": significavam apenas as garantias do estado nacional ao trabalho no campo e na cidade; posse da terra, apoio legal do estado aos sindicatos, etc. A idéia do aumento de 100% do salário mínimo poderia parecer demasiado apressada, e pode ter sido um erro de cálculo político do jovem Ministro do Trabalho em 1953 (que lhe custou o cargo). Entretanto, seu efeito seria a de um tremendo desenvolvimento da produção e mercado interno, e das pequenas empresas que passariam a existir para um novo povo brasileiro mais “capitalizado”. Talvez apressado, mas correspondendo em justa medida às necessidades econômicas da nação.

[**] Após a renúncia de Jânio Quadros. O voto para Vice-Presidente na época era separado do voto para Presidente; ainda que cada partido tivesse sua chapa para estas candidaturas - o Marechal Lott era o candidato a Presidente na chapa do Jango. Ou seja, ao renunciar, de modo semi-consciente, o Jânio reconstituiu a cena original, em que Jango seria o candidato a Presidente, e vencedor em 1960. Teria tomado posse naturalmente, e governado, se não fosse o rugido obsceno da extrema-direita militar, atiçada pelo imperialismo.